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A miúda tem fé

Ora aqui está uma virtude em que não sai à mãe, de todo. Ontem quando a fui buscar lá lhe perguntei como lhe tinha corrido a ficha de avaliação, ao que me responde:

"Acho que vou ter Muito Bom!"

"Olha lá, não aumentes a fasquia, porque se tens uma nota mais baixa, ficamos tristes" - disse-lhe eu.

Mas foi o mesmo que não ter dito nada, pois manteve o prognóstico.

Lembro-me de nos meus tempos de estudante manter um singelo "mais ou menos" - assim não criava grandes expectativas para mim e para a minha mãe. E, curiosamente a única vez em que vinha vitoriosa foi no dia da Prova Específica de Filosofia. Era a minha disciplina preferida, ainda equacionei seguir essa área, e só não o fiz porque a minha mãe me tirou essa ideia da cabeça. "Vais fazer o quê com uma licenciatura em Filosofia?"

Pois que saí da prova a exultar que tinha sido no mínimo brilhante e quando saem as notas, levei o baque da minha vida, tanto que, 24 anos volvidos, ainda me recordo como se fosse hoje. Tirei uns míseros 51% e talvez tenha sido a primeira grande desilusão da minha vida.

Ou talvez não, porque percebi aí que tinha o dom de saber fundamentar muito bem as minhas ideias e, mesmo contra a vontade da minha mãe que se recusava a aceitar que eu tinha razão e começou a martirizar-me que eu só tinha feito disparates e que com aquele resultado estava a ameaçar o meu ingresso no Ensino Superior (o que era um perfeito disparate, dada a média que eu tinha e os resultados das outras provas), enchi-me de coragem e pedi revisão de prova.

Não obstante o facto de me terem subido a nota (nunca equacionei sequer que não me dessem razão), serviu-me de emenda e voltei ao anterior registo, ou seja, manter a expectativa no "mais ou menos".

Mas ela é obstinada e continua a teimar que vai ter M. Bom. Veremos :)

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