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O meu progenitor faz hoje 60 anos

No outro dia dizia eu à minha mãe com um toque de humor:

Óh mãe, o seu ex-marido vai fazer anos na sexta-feira.

E diz ela:

Quem???

Demorou uma fracção de segundos até se situar e depois lá confirmou que o senhor faz 60 anos; isto se for vivo, digo eu.

Custa-me chamá-lo de pai, porque nunca o foi; contudo acabo por ter um certo orgulho em ser filha daquele homem, geneticamente falando.
Pai na verdadeira acepção do termo...não foi. Mas foi tudo uma questão de escolhas, de política e de ideais.
Obviamente que privou a família de muita coisa, mas não posso dizer que seja um traste como certos que andam por aí.

Para além disso é um homem com uma mente brilhante, com capacidades intelectuais e estratégicas acima da média, fala uma série de idiomas, fez os seus estudos superiores na ex União Soviética, tem uma figura distinta, um negro com traços finos e elegantes, de uma educação muito british.
Através dele tenho ascendência real/tribal, pois o meu avô era descendente directo dos Reis do Congo e é engraçado ter em meu poder fotografias dele (que não conheci) com traje militar, todas aquelas medalhas e o seu porte "real".

Acho que se falássemos de política éramos capazes de nos entender minimamente, se falarmos de Filosofia, Socialismo e paradoxalmente de democracia, também chegaríamos a conclusões engraçadas.

Dele herdei a beleza das mãos e alguns dos meus traços mais bonitos, entre os quais os olhos rasgados, os quais a minha Bébécas também herdou.

Não foi "meu" pai de facto, eu era apenas uma bebé quando ele regressou ao seu país natal, nos entremeios a última vez que o vi deve ter sido para aí há uns 15/16 anos, mas não posso deixar se sentir alguma coisa de positivo quando leio artigos de revistas e jornais portugueses e estrangeiros acerca dele, e sobretudo numa Point já muiiiito antiga numa das partes da entrevista, o jornalista dizer que ouvir aquele jovem homem era quase hipnotizante e sobretudo que os seus longos dedos exprimiam tudo aquilo que ele queria dizer.

A genética tem destas coisas; as minhas mãos são tão dançarinas como as dele.

Enfim, foi uma pena não termos sido um do outro, não tenho por ele aquele amor fraterno nem nada que se pareça, mas não deixo de me lembrar dele e que para eu existir, teve que existir ele, a minha mãe e tanta história!

A minha filha tem uma ascendência da parte da mãe de facto muito rica, talvez por isso já lhe ache aqui e ali, algum interesse pela cultura e pela arte.

Ahhh, parabéns Sr. pai!

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