Artigo retirado da Pais & Filhos e que conflui exactamente com o que pensei quando decidi proporcionar à Lady Bébécas, na altura com 2 anos o início da aprendizagem de outro idioma, neste caso o Inglês. Tem sido uma experiência fantástica para ela, tem aprendido imenso e foi mais uma boa opção que fiz para dar uma ajuda ao futuro dela - implica investimento a vários níveis, mas vale a pena.
Aprender uma segunda língua nos primeiros anos de vida pode ser uma opção muito compensadora. O bilinguismo estimula a inteligência, a criatividade e é um passo à frente para competir no mercado de trabalho. Há ainda quem acredite que falar dois ou mais idiomas mantém o cérebro em forma e reforça a função mental.
Rafael ainda não fala. Dá uns passinhos inseguros e às vezes desequilibra-se e cai de rabo no chão. Aos 17 meses, os pais decidiram levá-lo à primeira aula de inglês. É apenas uma aula experimental. Carla e Rui ouviram falar do ensino de línguas para crianças a partir dos três meses e quiseram saber mais. Só não esperavam que a aula da professora Bruna fosse uma lição também para eles. Os três estão sentados no chão, descalços e atentos à professora, que exemplifica todos os exercícios com uma boneca de pano. “É a minha bebé”, diz.
Todas as tarefas são acompanhadas por uma coreografia simples e uma canção alegre. “Isto também acaba por ser uma aula de ginástica para os pais”, diz Bruna Adónis, como um sorriso. “Up. Down. Turn around.” (Cima. Baixo. À volta.) A professora canta, bate palmas e vai repetindo “very good” (muito bem). O Rafael está divertido nas mãos do pai que o levanta e baixa ao ritmo da música. Nos centros de ensino de inglês Helen Doron, os pais estão presentes nas aulas até aos três anos e, mesmo a partir dessa idade, se os filhos forem muito ansiosos, podem continuar a acompanhá-los.
O próximo exercício tem como objetivo a estimulação pelo toque. “À medida que vamos tocando nos bebés, de uma forma ritmada, os seus neurónios também se estão a desenvolver”, explica Bruna Adónis. É entre os zero e os seis anos que a produção de neurónios tem a sua “fase de ouro”: nessas idades, o desenvolvimento cerebral é mais intenso e os neurónios são mais propensos à receção a estímulos do ambiente. A professora e os pais cantam enquanto apontam o nariz, os ombros, os joelhos e os pés do bebé, repetindo os nomes de cada parte do corpo em inglês.
Quando os pais estão muito focados em conseguir que o seu bebé pronuncie as primeiras palavras, não pensam noutra coisa. O que muitos não sabem é que o momento ideal para introduzir a aprendizagem de uma língua estrangeira é, na verdade, quando a criança está a aprender a primeira, porque, quando somos mais novos, o cérebro aprende qualquer idioma naturalmente e absorve vários sotaques sem dificuldade. O ensino bilingue nos primeiros anos de vida permite não só que as crianças aprendam mais rápido e retenham melhor, mas ajuda também a fortalecer as suas capacidades intelectuais. Aprender que um objeto pode ser descrito de mais do que uma forma e por mais do que uma palavra estimula a flexibilidade do pensamento e, acima de tudo, a criatividade. Os linguistas dizem que não existe um limite para os sons que o ser humano consegue aprender e que as crianças têm uma capacidade inata para distinguir os vários idiomas.
Ao contrário do que se poderia pensar, em vez de instalar a confusão linguística, o bilinguismo melhora o funcionamento do cérebro e o modo como o sistema nervoso reage aos sons. Essa foi aliás a conclusão de uma investigação, realizada por um psicólogo da Universidade Penn State (Estados Unidos), que sugere que falar mais de um idioma mantém o cérebro em forma e reforça a função mental. Outro estudo da Universidade de York (Canadá) sustenta que pessoas bilingues podem retardar o desenvolvimento de Alzheimer e que as crianças que falam de forma fluente mais do que uma língua são melhores a organizar tarefas.
Carla, como muitos pais, percebeu como é importante educar uma criança para ser cidadã do mundo globalizado em que vivemos. “O inglês é preciso para tudo e em qualquer emprego”, diz, certa de que esta será “uma mais-valia” para o futuro do seu filho.
A melhor forma de ensinar uma segunda língua a uma criança é imergindo-a nesse idioma. Se tiver a sorte de pertencer a uma família bilingue, os pais não devem perder a oportunidade de forçar o diálogo nas suas línguas maternas. Se não for esse o caso, a alternativa é inscrever as crianças numa escola de línguas ou num colégio de ensino bilingue.
Dinâmico e divertido
Ana Cruz tem três filhas, todas elas a aprender inglês no centro Helen Doron localizado na Alta de Lisboa. A Rita, com dois anos, foi a última a entrar, só começou a ter as primeiras aulas este ano. A mãe, que é professora, sabe que as crianças têm alguma “resistência” às línguas quando são ensinadas no “regime normal”. Foi por isso que quis que as suas filhas associassem de alguma forma a aprendizagem de uma nova língua a um conceito dinâmico e divertido. “Começam por aprender mais vocabulário, associado a jogos e a canções, e menos de conversação, porque são muito pequenas”, conta Ana, convicta de que, a partir daqui, a aprendizagem na escola será “muito mais fácil”. Em casa, a mãe já surpreendeu várias vezes as filhas a referirem-se aos talheres e aos alimentos em inglês.
“Acredito muito numa sociedade global e o meu objetivo para elas, se é que os pais têm alguma mão nisso, é que alarguem os horizontes, que estudem fora, trabalhem fora”, diz Ana Cruz. Afinal, num mundo é global, o melhor que os pais podem dar aos seus filhos é a preparação para vingarem neste novo cenário.
Miguel leva a filha às aulas desde os três meses. No fim do primeiro semestre de aulas, a Maria Miguel já dizia várias palavras em inglês. “Ainda hoje, a minha filha diz bellybutton, em vez de umbigo”, conta o pai. Este ano, a aprender inglês na escola pública, Maria Miguel, agora com cinco anos, leva “uma bagagem” que pode fez a diferença em relação ao ritmo de aprendizagem dos seus colegas de turma.
Apesar da crise, os pais apostam cada vez mais neste tipo de atividade, constata Mariana Torres, responsável pelo master franchise destes centros que têm mais de 2.500 crianças inscritas em Portugal. “Por um lado, temos pais a irem viver para países como o Dubai e a precisarem que os filhos levem bases de inglês suficientes para poderem entrar na escola internacional. No ano passado, já tivemos muitas crianças nesta situação, por isso, acabamos por fazer um ensino muito intensivo com elas”, recorda. Mas, “mesmo os que não estejam a pensar emigrar para já, vêm o futuro tão negro que querem investir na educação dos filhos, para lhes darem mais ferramentas para o futuro”, continua. Outros, com o orçamento familiar reduzido, abdicaram do ensino privado onde tinham os seus filhos para os colocarem numa escola pública e, agora, procuram atividades extracurriculares para compensar essa opção.
Se o inglês é o idioma estrangeiro mais comum nas escolas, também é verdade que a generalização do seu ensino fez com que seja cada vez menos um fator diferenciador. Bem menos convencionais são as aulas de mandarim para crianças, que começam a surgir e captar o interesse das famílias. Não é preciso ter uma bola de cristal para adivinhar que a língua falada no maior país do mundo vai ter uma grande utilidade no futuro, está escrito em todas as previsões económicas.
Por aquisição
No início deste ano letivo, o colégio Saint Daniel Brottier, em Lisboa, iniciou uma experiência-piloto de ensino extracurricular de mandarim a uma turma de 17 crianças. Para desmitificar a complexidade da língua, a professora Chang Munton conta que, nas primeiras aulas, o tempo foi passado a brincar: “Ouvimos muita música, cantamos e, no meio da brincadeira e da diversão, eles vão aprendendo sem se aperceberem disso”. Em coro, repetem os números de um a dez – yi, er, san, si, wu, liu, qi, ba, jiu, shi – e já sabem o nome de algumas partes do corpo. A professora, estreante no ensino a crianças com cinco e seis anos, garante que os mais novos aprendem de forma diferente dos adultos: “Não têm preocupações com regras fonéticas e gramaticais, nem com explicações sobre a origem das palavras. O adulto pode aprender mais numa hora, mas tem mais dificuldade em reter, porque está muito preocupado em fixar e memorizar a parte fonética, que no chinês é muito complexa”.
A melhor forma de aprender uma nova língua é “por aquisição”, ou seja, desenvolvendo habilidades funcionais através de assimilação natural, intuitiva e inconsciente em interação. Exatamente como as crianças fazem. Ao contrário, os adultos fazem-no “por aprendizagem”, recebendo e acumulando informação e transformando-a em conhecimento. Esta teoria explica por que motivo as crianças partem em vantagem nesta matéria.
Nos 45 minutos semanais da aula da professora Munton, também se fala da cultura chinesa, fazem-se as primeiras tentativas de escrita e “é uma vitória muito grande quando os alunos conseguem fazer um caracter todo certo”. Numa língua com uma estrutura completamente diferente da portuguesa, são precisos, pelo menos, três anos para ter competências mínimas de conversação. “No mandarim não existe um alfabeto como no ocidente, em que juntamos letras para formar palavras. Um caracter pode significar uma palavra, tal como dois caracteres juntos. Só se as conhecermos percebemos o seu significado, enquanto no ocidente conseguimos ler qualquer palavra mesmo sem termos ideia nenhuma do que quer dizer”, explica a professora no seu português perfeito.
O Colégio Saint Daniel Brottier não oferece ensino bilingue, mas todos os alunos a partir dos três anos frequentam aulas de inglês. O objetivo é formar cidadão para uma sociedade globalizada. “A língua estrangeira abre novos horizontes à criança, ao ser veículo de cultura, modos de vida, de pensar e de semear a curiosidade”, explica Ana Lé de Matos, diretora da instituição.
De forma natural
Para os pais que optam por dar uma educação bilingue plena aos seus filhos, há várias propostas de ensino: as escolas em que a segunda língua acompanha as crianças desde o berçário, mantendo contudo o foco no português e aquelas em que há uma total imersão da criança no segundo idioma.
No Colégio Europeu Astória, por exemplo, o ensino bilingue é desenvolvido diariamente, desde os quatro meses, através da interligação do português com o inglês. “Na creche, a compreensão da língua é estimulada quando se fala com o bebé em inglês nos momentos da sua rotina diária: alimentação, brincadeira, hora de adormecer com lullabies e também através da descoberta de vários brinquedos na sala que promovem a aprendizagem sensorial e visual em conjunto com a linguística”, explica Ana Paula Oliveira, diretora da instituição. Já no primeiro ciclo, é na língua de “sua majestade” que as crianças adquirem conhecimentos de literatura infantil, artes, música e literacia matemática. Neste colégio, que promove o intercâmbio das crianças através de programas com Erasmus, Leonardo Da Vinci e Comenius, os alunos chegam ao quarto ano com conhecimentos que lhes permitem conversar em português, inglês e alemão.
Por fim, é importante não esquecer que os pais são fundamentais para o sucesso de uma educação bilingue. Os pais podem recorrer a diversas ferramentas para incentivar e estimular a aprendizagem da segunda língua. Ler histórias infantis, ouvir músicas e utilizar viagens, jogos e brincadeiras para expor a criança ao novo idioma. Mas atenção: tudo isso deve ser feito de forma natural, tranquila e estimulante. A pressão sobre a criança pode gerar ansiedade e acaba por ser prejudicial.
ENSINO BILINGUE EM PORTUGAL
As escolas com ensino bilingue não estão, na maioria dos casos, ao alcance de todos os bolsos, mas há muitos pais a investir numa educação que abra oportunidades internacionais aos seus filhos. Em Portugal, existem várias escolas bilingues, concentradas sobretudo nas regiões da Grande Lisboa e do Grande Porto. Na capital, há seis colégios internacionais que seguem os currículos dos países a que estão associados: a escola americana Carlucci American International School of Lisboa (CAISL), a International Preparatory School (Reino Unido), a St. Dominics International (segue o currículo internacional com aulas lecionadas em inglês), o St. Julians British International School, o Lycée Français Charles Lepierre (francês) e o Deutsche Schule Lissabon (Escola Alemã de Lisboa). Os pais que queiram proporcionar aos seus filhos o ensino em línguas estrangeiras podem ainda optar pelo Colégio Europeu Astória, com sistema bílingue (inglês / português) até ao 2º ano do 1º ciclo e sistema trilíngue (inglês/alemão/português) no 3º e 4º ano do 1º ciclo.
No Porto, o Colégio Luso-Internacional do Porto (CLIP) baseia-se na estrutura do National Curriculum do Reino Unido e ainda disponibiliza ensino de francês, alemão, mandarim e espanhol do 5º ao 12º ano, a Oporto British School (Colégio Inglês do Porto) segue também o currículo da escola britânica. Na cidade existem ainda o Deutsche Schule zu Porto (Colégio Alemão do Porto), o Lycee Francais de Porto (Liceu Francês) e o Colégio Luso-Francês. As propinas nestes colégios podem ir dos quatro mil aos 20 mil euros anuais.
Onde aprender mandarim
Para responder ao crescente interesse pelo chinês, há cada vez mais escolas. Em Lisboa, além do Colégio Saint Daniel Brottier, também a Escola Chinesa, o Centro Cultural Científico de Macau e o Instituto Confúcio da Universidade de Lisboa têm aulas para crianças. Em Braga, no Porto e em Paredes o Instituto Confúcio da Universidade do Minho disponibiliza aulas para alunos do ensino básico e secundário. E Bragança, foi criado no ano passado um Centro de Língua e Cultura Chinesas, que funciona na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança. Nas escolas do primeiro ciclo de São João da Madeira, o idioma dominante na China passou a fazer parte do currículo, depois de aprovado em Assembleia Municipal.
in Pais & Filhos
Escrito por Catarina Madeira Sexta, 11 Outubro 2013
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