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Para si Avó

É incrível, a cada ano que passa eu digo isto, mas ao mesmo tempo que parece que não a vejo há uma eternidade, parece que acabei há pouco de lhe dizer até já.
Ainda sinto o cheiro do perfume dela, o timbre da voz dela está presente na minha mente, os olhos do mais profundo azul que vi até hoje e aqueles lindos cabelos negros.

No dia de hoje, há 14 anos atrás, eu, com o idealismo próprio dos meus 20 anos, pensei que a situação ia dar uma volta, a Avó tinha acabado de dizer que daí a 2 anos ia assistir à minha celebração da licenciatura, disse que lhe cheirava a flores, que o quarto do hospital era lindo...mas eu não me apercebi que embora estivesse ali fisicamente, a alma dela já estaria a começar a sua viagem.

Não percebi e acabei por não me despedir dela como gostaria, e como deveria ter feito.
No dia seguinte (05/10) fui a primeira a visitá-la e foi o choque, mas assim mesmo continuei a achar que ela dava a volta...para mim aquele estado comatoso era efeito da morfina, quando eu me despedi com um até amanhã, ela, sem pestanejar levantou o braço, eu agarrei-o e senti-o muito pesado, mas ela levantou-o!
E no dia seguinta (06/10) às 12:50h a fatídica notícia; só me apetecia partir tudo e gritar.

Queria estar com ela, queria vê-la; e passar aquele resto de dia a acompanhar a preparação do funeral, a escolha da urna, do jazigo, do que ela iria vestir, o sofrimento da minha mãe (filha única) são coisas que nunca mais esqueço. Acabou por ser Pe. Fernando a tranquilizar-me um pouco, já  iamos na madrugada do dia 08/10.

É uma das duas semanas horribilis da minha vida, mas ao fim de tantos anos, a serenidade e o conformismo da distância física, são compensados com a presença espiritual.

Tive o gosto de perpetuar a memória dela num dos apelidos da minha filha e tenho a alegria de, mais uma vez sendo o veículo a minha filha, ver nela atitudes da minha avó. E são aquelas atitudes que eram mais hilariantes, aquelas expressões no rosto tão dela....e que agora vejo na Bébécas.
É maravilhosa a genética.

Agradeço-lhe acima de tudo todas as coisas que fez por mim e pela mãe, se não fosse a avó nada seria como é e agradeço-lhe hoje e sempre o facto de ser a minha avó, minha, muito minha. Privámos apenas 20 anos fisicamente, mas a avó jamais desaparecerá da minha memória.
Continuo a gostar muito de si, cada vez mais. Esteja onde estiver a avó está no meu coração e é uma pessoa irrepetível na minha vida.

Até breve avó!


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