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Avó

 Tinha nome de rainha a minha avó Isabel e sem dúvida que reinou e sempre reinará no meu coração. Há 23 anos atrás perdíamo-la para uma batalha sobre-humana. Era uma mulher linda, com os mais belos olhos azuis que vi em toda a minha vida. Uma força da natureza, uma mulher de luta, uma mulher de paixões que nunca desistiu de tentar ser feliz. E foi, teve muitos momentos de felicidade e uma vida singular. O seu principal legado foi fazer o bem sem olhar a quem, mesmo que depois de o fazer e sentir que a missão estava cumprida, tivesse que se afastar, pois chegou ao patamar em que sabia que nem toda a gente merecia ter a sua amizade…mas o bem, sempre o fez.

Lembro-me de ser uma criança com 8 anos, ou 9, a minha mãe ter ido passar o fim de ano fora e eu, ter ido com a minha avó pouco antes das 12 badaladas tocarem, a casa de uma família em sofrimento. A minha avó foi dar uma injecção de morfina para apaziguar a dor de um doente terminal. E disse-me: vais ver que a vida tem muitos momentos de dor, mesmo quando ao lado, pode estar muita gente a sorrir. Se houve quem me deu verdadeiras lições de humanidade, humildade e de luta…foi sem dúvida a minha avó.

Já vivi mais anos sem a presença dela, do que o inverso, mas continuo a sentir-lhe o cheiro, continuo a sentir-lhe o olhar, o sentido de humor, a gargalhada, o vozeirão. A minha avó ficou-me na pele e 23 anos volvidos e tanta saudade que tenho, ao mesmo tempo, fecho os olhos e parece que estive com ela há pouco, porque até aos meus vinte anos, a intensidade dela cravou-se em mim, no meu coração e na minha alma. A pessoa mais honesta e íntegra que conheci, uma grande mulher, mãe, avó, amiga, enfermeira e até a forma digna com que lidou com 2 cancros e dois dias antes de partir ter a grandeza de dizer que partia em paz, sem ressentimentos de nada nem de ninguém e para ficarmos tranquilos, porque afinal, morrer era bom e cheirava a flores.

Tenho tantas, mas tantas saudades suas minha Querida Avó. 

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