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O (meu) avião de madeira

Não só porque quem viveu a primeira infância em finais dos anos 70, princípio dos anos 80 tenha sido criado numa sociedade com valores e oportunidades completamente distintas, mas também devido ao facto de, até à segunda união da minha mãe ter sido criada sozinha pela minha mãe e com muito apoio da minha avó, digamos que os bens essenciais nunca me faltaram, de todo (sei que a minha mãe passou por maus momentos para que nada me faltasse), as despesas com a minha saúde eram muitas, a maior parte do vestuário que tive até certa altura era em segunda mão e como é óbvio, os brinquedos eram mais escassos do que para outras crianças.

Contudo, em conversas com amigos acerca da sua infância, chegamos à conclusão de que por motivos semelhantes ou nem tanto, acabámos por ter os nossos primeiros anos algo parecidos, ainda que com as devidas reservas.

Mas sim, lembro-me de olhar para o lado e ver que a amiguinha do lado tinha a Barbie que eu gostava tanto de ter, ou a Barriguita, ou o Nenuco...mas por seu lado eu tive a bicicleta que na altura era das mais lindas que havia, tive o Spectrum e tinha acima de tudo (e sem dúvida que me fizeram passar dos meus melhores momentos de infância) uma biblioteca literária infanto-juvenil em muito construída pela minha mãe e avó, que põe a escassez de livros de muitos adultos de hoje em dia a um canto.

Olho para trás e sinto que embora não tenha acedido a certas coisas, o importante esteve sempre lá, a qualidade e não uma montra digna de qualquer escaparate de uma dada loja de brinquedos - mas na altura nós não percebemos.

E porque é que me deu para resenhar acerca deste tema!? Exactamente por causa dele, do meu avião de madeira.

Foi dos brinquedos de que mais gostei, um simples avião desmontável em madeira, com meia dúzia de peças e que me lembro de o ter, desde sempre; confirmado pela minha mãe há dias que me disse que mo ofereceu era eu muito pequenina. Esteve sempre no meu quarto e sinceramente entre as bonecas, esse avião e um carro da Polícia que o meu pai me ofereceu e que andava sozinho, foi dos brinquedos que mais me marcou e que tive a sorte da minha irmã não estragar 10 anos e meio depois.

Por estes dias, quando fui fazer a árvore de Natal com a Bébécas, lá fomos à arrecadação buscar as coisas, e sempre que lá vou trago algumas coisinhas que a seu tempo foram minhas e que a minha mãe com todo o carinho guardou, que, sendo adequadas à idade vão compondo o quarto e preenchendo lacunas que, dada a conjuntura deste momento, devemos aproveitar; a panóplia de livros infantis que tem, jogos, bonecos em miniatura, puzzles, têm dado uma grande ajuda.

Desta vez, ainda descobri lá mais alguns livros, um puzzle do Mickey (que oportuno), um jogo com os alimentos e o meu avião de madeira e pensei logo num destino para ele - limpá-lo com óleo de cedro e colocá-lo numa prateleira no meu quarto, com aquelas coisas que me marcaram mesmo pela positiva e que me deixaram saudades - qual quê, como que percebendo a minha satisfação com aquela peça, a Bébécas adoptou-o para ela, não mais o largou, quer levá-lo para o banho, faz-nos companhia nas refeições, dorme com ele e não vai a lado nenhum sem o bendito avião.

E pensar que tem o quarto cheio de brinquedos, de todas as qualidades e feitios e continuar a provar-se que salvo raras excepções, é das coisas mais simples de que eles mais gostam.

...Orelhinhas encardida incluída no rol.

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