“Mãe, eu nunca na vida daria um órgão a quem não fosse da minha família!”
Respirei fundo e fiz-lhe uma breve resenha acerca do tema transplante. Depois passamos para altruísmo e afins. Portanto a fotografia da coisa para o lado do dador e para o lado de quem precisa e que hoje não sabemos se amanhã estaremos na lista de espera. Expliquei-lhe que para certos órgãos podem ser dadores vivos mas que, se doam um órgão, ficam com outro e não morrerão por isso - ficarão certamente com um sentimento de felicidade extrema por terem ajudado a prolongar a vida de alguém.
Os dadores mortos, assim como assim, por eles já nada havia a fazer.
Continua desconfiada.
Até que lhe disse que eu própria estou inscrita como dadora de medula óssea e que portanto não estou de acordo com a posição dela, mas tenho que respeitar. Função didáctica: “eu só espero que nunca ninguém perto de ti necessite de um transplante de um dador anónimo, pois talvez aí percebas que não se deve pensar nas coisas de ânimo leve e atirar para o ar ideias pouco solidárias.”
Isto tocou-lhe. Disse que se calhar vai pensar melhor e ler sobre o assunto.
Vá, já é um bom princípio o de procurar informação. E mesmo que continue a não concordar, que o seja por outro tipo de argumento que não o “eu não vou dar um órgão a um estranho”.
Isto de se transmitir valores morais à nossa descendência não é de facto tarefa fácil.
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