Não vou dissertar acerca do bolo em si, até porque não sou apreciadora. Vá, uma fatia por ano da Presidente ou da Versailles, mas fico-me pela fatia mesmo e no fim, a saudação para praxe, até para o ano, se cá estiver.
Também não vou falar acerca do acervo do mesmo na cavidade bocal do Sr. Silva há uns anos atrás, para fugir a questões desconfortáveis dos "malandros" dos jornalistas.
Centro-me apenas no facto: quando começo a ver bolo rei à venda em fins de Setembro e princípios de Outubro, está dado o mote para a inclemência, a ganância, a loucura. Não tem emenda. Nem pandemias, nem guerras, nem aumento exponencial das prestações a pagar ao banco, nem os iogurtes terem aumentado 0,30 cêntimos, já para não falar nas viaturas automóveis, autênticos sugadouros de gasolina.
Retomando o tema do bolo rei! Eu ainda não o tinha visto na vitrina da pastelaria do hipermercado, mas farejei-o. E não pelo aroma, mas pelo olhar enlouquecido dos transeuntes a agarrarem em tudo como se o Natal fosse amanhã. Fui empurrada uma série de vezes ora na fila do pão, dos legumes, sendo que como ando mais leve do que é comum, de uma das vezes ia caindo mesmo, e veio um salvador que me segurou e ainda lançou umas quantas palavras menos simpáticas a quem me derrubou. Não sou destas agressividades, mas depois deu-me uma certa vontade em atirar o carrinho semi-cheio para cima de uns quantos histéricos, que deviam por tele-transporte ir parar às filas de racionamento da II Guerra Mundial a ver como se comportariam.
A espécie humana é mesmo desumana, vil, reles e ordinária...infelizmente na sua maioria.
Sem ser a analogia do bolo rei, há uns dias atrás aconteceu-me o seguinte, sendo que não conduzo nada mal, sou cautelosa, cumpro as regras...mas sou humana, também me engano e a sinaléctica nem sempre ajuda. Ora estava ali pelas imediações de Telheiras, um tracejado no chão baralhou-me e entrei discretamente em contra-mão. Parei logo, 4 piscas, olhei em volta, vinha de cima um senhor de idade a quem pedi logo desculpas e fiz marcha-atrás rapidamente sem prejudicar ninguém, até que quase que passando por cima do tal senhor idoso vem um gajo, para não lhe chamar nomes piores, montado num carro aí umas 4 vezes mais dispendioso do que o meu, olha para mim e mostra-me o dedo do meio...assim, do nada, ordinário, reles, e toda uma série de terminologias que eu podia apelidá-lo, mas que nem vocabulário tenho para isso.
Nunca na minha vida tinha chegado a tal leviandade e assumo ordinarice, mas eu naquele dia também já estava passada com uma série de coisas que me fugiram do controlo e ainda ter a minha mãe à minha espera com uma hemorragia na boca - o que se seguiu foi deprimente: voltei a pedir desculpa ao senhor idoso, abri o vidro do meu carro, porque cobarde é coisa que não sou, quem conhece a minha mão sabe que ela é gigantesca e o tamanho dos meus dedos faz-lhes jus, e levou com o meu dedo do meio, muito maior do que o dele e chamei-o: Ordinário!
Agi bem, não. Nunca na vida fiz uma coisa destas, mas até um anjo perante estas formas de estar na vida perde ou queima as asas. Estupor, estupores de pessoas que andam por aí e nem merecem sequer figurar no registo civil.
Mas acho que aprendi a lição - tão pouco me fiquei a sentir melhor por lhe ter atirado com o meu dedo médio gigante, mas apelidá-lo de ordinário até me fez bem. Depois fiz a minha manobra, voltei a pedir desculpas pelos maus actos ao senhor idoso...e lá fui buscar a minha mãe.
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