Eu gosto de ser mãe, e sobretudo gosto mesmo muito de ser mãe dela. E gostaria de ser de todos quantos a bênção da maternidade me tivesse agraciado. Mas não é fácil, de todo.
E a minha filha não é uma criança fácil. Parece aos mais incautos e ela também sabe como e quando se deve comportar bem...de um modo geral vá. Comigo, decidiu tirar-me o chão, o céu e a paciência, tudo junto em modo catástrofe natural. Mas no meio da hecatombe, diz que me ama, com aqueles olhos de Basset Hound e boca em formato rissol. Os olhos mais ternos e com sentimento, e eu, deixo-me levar e ela já percebeu o meu ponto fraco e faz algumas vezes o que quer.
O que ainda resulta é a retirada de privilégios, porque o par de berros, o "vais levar uma palmada" que ela sabe que esta mão gigante nunca lhe assentou e os avisos de que o Natal e as festas de anos estão próximas, não surtem grandes efeitos.
Obviamente que não me deparo com o tormento diariamente...mas quase.
Ontem teve que sair a vertente educação, mas só à terceira chamada de atenção é que deixou de ser audível, pelos menos aos meus ouvidos, a blasfémia.
Vejamos, a Profª de Francês parece-me demasiado crente, na minha humilde opinião. Primeiro ano em contacto com o idioma, 2 aulas por semana creio eu e mandar trabalhos de casa em audio em francês, com a rapidez com que eu falo português, parece-me excessivo. As crianças pura e simplesmente não entendem e a minha filha não é dotada de uma réstia de paciência, e põe-se aos gritos com o tablet e com o laptop. Só quando passa à fase de menor excitação é que me dirijo a sua Excelência Reverendíssima e tento ajudar. Da primeira vez foi o sururu:
"Então tu sabes francês, percebes tudo o que a professora está a dizer e não foste capaz de me dizer?"
Lá lhe expliquei que o facto de ela estar a ouvir um audio e eu estar na minha vida, não me permite meter-me em confusões e que lá em casa, quando se precisa de ajuda, pede-se com educação.
Ok, pediu ajuda. Calmamente lá a fiz ouvir os áudios com presença de espírito e escuta activa e 3 minutos depois lá me disse que já percebia tudo. Agradeceu a minha ajuda, ainda disse pelo meio "bolas Mãe, tu és mesmo inteligente, não há uma matéria que eu peça ajuda que tu não saibas", eu a sorrir e a pensar que vai ser lindo quando chegarmos à Física Quântica e, entre-dentes, vocifera o seguinte:
"Sinceramente não sei como é que os meus colegas burros vão conseguir fazer estes trabalhos!"
Veio a voz da ética e da moral - a mãe.
"Ouve lá Rita, eu já não te disse que não te admito esse tipo de consideração acerca dos outros!? Ou então ficas na mesma base, sem o meu "empurrão" não conseguirias fazer, e nesse caso, também eras burra, é isso?"
"Não é isso mãe, mas eu tenho colegas que são mesmo burros. Mesmo que tu fosses ajudar eles continuavam a ser burros!"
....e eu que detesto este tipo de catalogação, insulto gratuito e pré-concebido, ainda para mais vindo da minha filha a quem trato de dar bons exemplos e valores!?
Saiu a brutalidade materna: "Se eu te volto a ouvir a dizer que os teus colegas são burros ou, pior ainda, se me chega aos ouvidos que o fizeste, prepara-te porque vais ter vários problemas e muito piores do que podes imaginar!
Fico aturdida com os desvios, quando a nossa postura em casa não é esta. É uma miúda super solidária, mas depois tens estes revezes que tanto me entristecem.
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