Hoje apanharam-me num dia em que não estou particularmente bem disposta. Aqueles dias em que precisamos de mimo e não o recebemos…condicionantes da vida.
Bom, fui ao hipermercado e ao entrar no corredor dos chocolates dou com um agrobeto todo pimpão, com o seus chinos, sapatos de vela e tudo a que tem direito, incluindo um bom perfume, com o seu carrinho com compras do dia a dia e a colocar no bolso disfarçadamente (mas não para o meu olho clínico) uma caixa com barrinhas de chocolate Kinder.
Aquilo irritou-me. Agrobeto, bem vestido, a cheirar bem, casaco porque tinha aliança, raça ariana…e a chegar ao declínio de furtar uma caixa com meia dúzia de chocolates.
Fiz questão que percebesse que eu vi….apenas olhando para ele com aquele meu olhar lancinante. O indivíduo hesitou, não quis dar parte fraca, mas depois entre lixo que tirou do bolso, coçou a cabeça e lá colocou a caixa de chocolates disfarçadamente dentro do carrinho. Mas eu não desisti dele…mais depressa desisto de outras coisas e até de pessoas. De criminosos não desisto.
Portanto ante a minha demanda por viveres e géneros não alimentares, lá me ia cruzando propositadamente com ele pelos corredores do hipermercado e não, nada de interesses românticos pelo personagem desonesto.
Teve tanto azar que ficou na fila paralela à minha e eu, olhando para o carrinho dei por falta de quê!?
Pois claro, dos chocolates! E que fiz eu!?????
Pois claro. Denunciei o comportamento desviante alertando que naquele momento eu não sabia se os chocolates tinham ou não voltado ao bolso…mas que houve uma tentativa de furto isso houve.
Aplaudo a acção cirúrgica da operadora da minha caixa e do segurança. Tudo muito tranquilo, mas a verdade é que na hora de pagar o “agro” foi interpelado se não se teria esquecido de passar uns chocolates ao que ele também se saiu de uma forma brilhante, devo confessar. Então, o indivíduo percebeu que ia ser encurralado e rapidamente deixou cair os chocolates na caixa antes de pagar. Quando lhe perguntaram por eles, disse qualquer coisa como “ah, deixei ali, peço desculpa”.
No fim, como foi tudo tão óbvio, levou os ditos chocolates mas pagou-os.
O que ganhei eu com isso!? Nada. Vou mudar o mundo!? Não.
Mas o Agrobeto não furtou os chocolates, talvez tenha aprendido a lição de que o crime não compensa e eu na verdade ganhei qualquer coisa; se não tivesse actuado teria ido contra a minha natureza e teria ficado irritada, porque não pactuo com este tipo de atitude e se somos agentes de mudança, devemos sê/lo principalmente nas pequenas coisas, e não andar para aí nas redes sociais a a destilar ódios e venenos e na vida prática não fazer nada.
PS: Muito importante para memória futura: o criminoso não era adolescente, nem criança, nem sem abrigo ou desfavorecido, também não era negro, nem mestiço, magrebino ou bengali. Também não era cigano.
Era tão só um Agrobeto, bem vestido, com um bom perfume, um bom corte de cabelo e atrevo-me a adivinhar até porventura com uma boa viatura.
I rest my case.
Comentários