A noite passada foi turbulenta e completamente despropositada e confesso que acordei cansada. Em bom rigor, na realidade nem dormi, sejamos precisos.
Tudo se desenrolou em torno do meu avô materno, da minha mãe e eu.
O meu avô faleceu há cerca de 2 anos e meio e privámos pouco, muito pouco. Não esteve presente na minha infância, nem na minha adolescência, tão pouco na entrada na idade adulta e só depois da minha filha nascer tivemos algo ligeiramente mais próximo.
Coisas de família que vêm dos idos anos 50 dp século passado e que acabam por comprometer gerações. Não obstante, o que privei com ele nestes poucos anos foi interessante e sobretudo a ligação dele com a minha filha valeu a pena ter sido possível, para ambos.
Coisas que ouvi à parte e mesmo até assumidas por ele, e todas elas menos boas, o meu avô tinha a sua graça, muito inteligente, muito dotado para as artes e com uma vivacidade aos seus 90 e alguns anos que eu hoje jánão tenho, pelo que a morte dele há 2 anos e tal atrás nos apanhou totalmente de surpresa. Pesa também o facto de por questões de saúde (minha) não ter podido ir à sua despedida, mas não ficou aquela sensação de pelo facto de não o ter visto, acalentar a esperança que fosse uma ilusão a sua morte...não, não tinhamos afinidade para isso, embora me tenha esntristecido a sua partida. Era o meu avô.
Mas provavelmente algo cá ficou porque na noite passada embrenhei-me na demanda pela última despedida ao meu avô.
Tinhamos sabido que a partida do meu avô estava iminente e vai daí eu e a minha mãe apressámo-nos a comprar bilhetes de avião para Angola - a divagação começou logo por aqui pois o meu avô vivia em Lisboa, logo isto não fez grande sentido.
Apanhámos o avião, chegámos a Angola e imergimos por aquele país dentro (que não conheço) em horas infindáveis com um calor infernal até chegar ao local onde estava o meu avô.
Nisto encontramos uma série de pessoas em pleno saque, algumas da família dele, outras desconhecidas aos meus olhos, como se ele já tivesse partido e depois alguém me chamou à atenção para eu não perder tempo porque ele estava a partir.
Estava numa espécie de pátio, vejo um jipe tipo Defender beje, dois senhores já entradotes na idade mas com um ar muito bonacheirão à frente, o meu avô sozinho no banco de trás a sorrir, aquele sorriso maroto e cómico que recordo, dirijo-me a ele não sem antes a minha mãe passar por mim e fazer a sua despedida, dou-lhe um abraço, um abraço que me ficou como se tivesse sido real, um beijo e ao tempo que lhe beijava a face os olhos dele foram fechando, o sorriso permaneceu e o carro com aqueles dois senhores meio celestiais e bonacheirões...partiu.
Foi muito cansativo até chegar àquele lugar, foi estranho ter partido nesta demanda apenas com a minha mãe e foi ainda mais estranho o despertar, exausta e com uma sensação estranha de que algo ali aconteceu.
Talvez um necessário encontro de almas no limbo do sono profundo e a despedida que não tive oportunidade de viver com o meu avô e porventura necessitasse dela.
Mas que foi estranho...lá isso foi.
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