Há uns dias, às primeiras horas da manhã andava eu acompanhada por Monsieur Balzac le chien, e ele, atrevido como tem vindo a ser seu apanágio, começa a uivar para chamar à atenção de uma senhora.
Senhora já com alguma idade, mas ainda no perfeito uso de todas as suas faculdades e em boa forma física.
Se há coisa de que não gosto é de cães saltitões que coloquem as patas imundas em cima das pessoas pelo que, reúno todos os esforços para que ele não faça o mesmo aos transeuntes.
A senhora riu-se para ele timidamente, mas percebi que teve medo do Balzac. Lá lhe disse que ele não faz mal, que é bebé e que só faz barulho para lhe darem atenção mas, ao recebê-la...foge.
Vá, omiti que já me deu uma dentada indolor na mão quando lhe tentei retirar da boca o produto de uma subtracção...mas para quê assustar a senhora, não é!?
Neste passeio eu acelerava o passo dependendo da rapidez do Balzac, para tão depressa voltar a parar e lá estávamos outra vez perante a dita senhora que lá deu a entender querer fazer-lhe uma festa. Lá o pus em sentido e ficaram amigos.
Quando torno a acelerar o passo, a senhora pergunta-me se a direcção que levava no seu passeio pedestre era a correcta para um determinado supermercado, ao que lhe disse ser de facto mas, caso pretendesse ir ao dito supermercado, não valeria a pena pois foi demolido para reconstrução.
Percebi que parou uns segundos para pensar onde seria o mais próximo para aí se deslocar a pé e nisto apanha-me de surpresa ao questionar:
"Quer fazer-me companhia, quer ir comigo e levar o cãozinho!?"
Apoderou-se de mim um sentimento, o qual não consigo explicar. Um misto de carinho por aquele ser humano que desconhecia até então, uma espécie de lamento pelo facto da sua solidão a fazer convidar uma perfeita estranha para a acompanhar ao supermercado. Uma vontade de lhe dar um abraço e de receber o seu, como uma neta ou filha recebe da sua avó ou mãe.
Não a pude acompanhar pois tinha que ir trabalhar, mas estou certa de que teria sido um bom passeio e a senhora teria usufruído de alguns momentos sem estar só e com a sempre divertida e inesperada companhia do louco do Balzac.
Talvez nos cruzemos novamente e eu própria lhe possa retribuir o simpático convite.
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