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As aventuras do Balzac

 Que ele é uma peste eu já tinha percebido e que me vai dar imenso trabalho, idem. Tem tanto de teimoso, quanto de cínico e acima de tudo muito fofo.

Mas irrita-me. Tem uma predilecção por ingerir quase tudo o que apanha e passear com ele na rua está equiparado a uma corrida com obstáculos, ou mais, uma fuga a tudo o que é passível de ingestão, nomeadamente papel e seus derivados.

Abre a bocarra e come como se estivesse cheio de fome; de facto, tenho que concordar com o Veterinário que me disse entre outras coisas que estes cães em específico são uns "aspiradores".

Mas para além de ser aspirador, atrevo-me a dizer que ele é recolector e faz compostagem dentro do seu sistema digestivo. Só pode.

Portanto enquanto eu me desvio de um lenço de papel cheio de resíduos alheios, sei lá eu quais, já ele abocanhou um guardanapo, ou algo do género. E apercebo-me do quão porcas são as pessoas, pois nunca tive oportunidade de observar o solo da forma como faço agora.

Em meio urbano, desde dejectos de animais que não recolhem, papéis (e aqui todas as categorias possíveis e que nem imaginamos), pensos higiénicos e tampões, cotonetes, restos de comida, cascas de frutos secos, preservativos (sim, há quem decida preservar-se a si, mas deixar resquícios biológicos infectados para os outros), etc etc. 

Eu lá tento que apesar de uma ou outra falta de rapidez da minha parte ele não ingira o que não deve, mas nem sempre consigo; portanto por vezes recolho dejectos dele em tom amarelo, laranja e até verde e fico a tentar adivinhar o que teria sido aquilo quando entrou pela boca dele dentro.

Sim, todos os passeios são uma aventura.

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