Vai! Entrei neste ano de baixa médica e obviamente que não augurou nada de bom. Foi necessário mas de facto terminar assim um ano e iniciar outro, está-se mesmo a ver que se vai passar o ano novo em trânsito entre instituições de saúde.
E assim foi. Eu que sou avessa e algo arredia quanto a estas questões e sou pouco dada a andar a caminho do consultório, este ano, fui lá parar várias vezes de urgência e todas elas resultaram em notícias chatinhas.
Há sempre prognósticos piores, até porque, ainda aqui estou a escrever estas linhas. Mas não posso dizer que algumas das situações que me acometeram, tenham sido fáceis.
Lido neste momento com a última. Faz amanhã uma semana, sem que nada o fizesse prever, acordei com o olho direito todo vermelho. Sem secreções, comichões e outras coisas terminadas em “ões”, não tenho feito disparates com as lentes de contacto, portanto, limitei-me a hidratá-lo como hidrato sempre, desde a minha última crise nas córneas. No dia seguinte olho continuava com o mesmo aspecto, houve quem lhe notasse inchaço, mas pior do que isso, era a dor intensa que me causava. Tinha o globo ocular tão mas tão dorido que se me caísse uma pena de canário por cima, eu gritava de dor, sem exagero.
Ora, não fui vítima de qualquer agressão e o exterior do olho estava aparentemente normal.
Na sexta-feira o olho já não estava vermelho; digamos que estava rosado, e eu pensei estar melhor. A dor mantinha-se quase insuportável. Trabalho, correr de um escritório para outro, reuniões, desconforto e a meio de tarde uma pessoa com quem estava reunida alertou-me que o meu olho estava muito vermelho, ao que eu referi que já me tinha apercebido, mas quase que instantaneamente fui acometida de uma dor de cabeça a incidir apenas no lobo parietal direito e analisando o olho, toda a parte que está normalmente oculta pela pálpebra, levantando a mesma tinha algo como um grande borrão de sangue. Não um simples derrame, mas quase um aneurisma na verdade.
Isto já era preocupante, não eram horas para incomodar a minha médica e liguei para o HSM onde recorro quando tenho urgência oftalmológica e onde a minha médica também trabalha. Primeiro senão; encaminham-me para S. José e numa sexta-feira enfiar-me em S. José…confesso que preferia ficar já numa qualquer capela pelo caminho.
Acabei por terminar no Hospital da CUF perto de casa que, fiquei a saber, têm urgência de oftalmologia até às 20 horas. Entrançando triagem num estado em que quem olha para nós crê que estamos bem, pelo menos fisicamente, e pelo método de Manchester nos atribuírem uma pulseira laranja já de si é desanimador. Depois ter uma médica que acede à nossa ficha e analisa as últimas análises ao sangue e antes de se preocupar com o meu olho, aconselhar-me com veemência a marcar com urgência uma consulta de medicina interna para estudarem e concluírem onde estou a perder sangue que ocasiona o meu nível de ferritina quase a zero…também é algo forte…para depois ser enviada com escolta para o piso de cima (não que eu precisasse da mesma porque via perfeitamente, mas os privados têm estas considerações) e o oftalmologista torcer muito a cara, apesar da simpatia extrema e me tratar por tu automaticamente como se fôssemos amigos há décadas e me falar de uma doença acerca da qual nunca tinha ouvido até hoje, muito menos calculei que fosse algo tão grave.
Esclerite. Coisa feia que afecta a esclera, que é precisamente uma das camadas que compõe o globo ocular. Está por norma associada a pessoas que têm patologias auto-imunes ou tuberculose, ou, pode não estar associado a nada disso, mas o organismo respondeu activamente a alguma ação de um organismo externo ou interno, que ele considerou invasor. Saí do hospital com uma pilha de medicamentos para aplicar localmente, incluindo cortisona que é algo necessário mas com efeitos adversos também, e com ordem expressa para lá voltar hoje para nova avaliação.
As dores passaram, pensei que estava tudo a ir ao devido lugar, mas após exame clínico, a tal mancha vermelha de sangue continua bastante intensa, apesar de melhor, o que me obriga a mais 10 dias de tratamento. Podia ser pior, podia ter afectado a minha visão, podia uma série de coisas, mas também podia não ter ocorrido e sobretudo é ingrato não sabermos o que espoletou esta situação.
…e como o ano ainda não terminou e as minhas visitas ao consultório médico ainda não terminaram, fica já assente que o próximo ano, caso cá me encontre para nele entrar e ainda não tenha partido para o inevitável, vou molhar o pé na água do mar, que para mim, é um bom augúrio. Férias, coração aberto, paz, risos e descontração.
Mais um desaire e ainda me vêem a fazer um pedido a Iemanjá!
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