Mas, por outro lado, por vezes dou comigo a pensar que poderia ter algumas falhas de memória. Sofreria menos, muito menos, pelo menos no que a transtornos pessoais diz respeito.
Como tenho memória e não sou mentirosa, nem há necessidade disso, tenho tudo na cabeça, o bom e o menos bom e não se desvanece.
Coisas básicas como o número de telefone da minha avó, que já partiu há quase 25 anos, a matrícula do carro que ela tinha, episódios da minha infância, os bons e os traumáticos, a minha operação ao nariz, estávamos para aí em 1979 eu vejo-me nitidamente em cima da cama do Hospital da Estefânia com um pijama vermelho - e essa imagem não me abandona porque é a única em que me lembro nitidamente da presença do meu pai. Não é comum, mas é uma particularidade que também dá jeito - enquanto estudante tinha uma capacidade de memorização tão interessante que se provou que eu não sabia as matérias de cor - sabia exactamente em que livro tinha lido determinado statement que me seria útil, nas disciplinas que implicavam Direito e tínhamos frequências com consulta, eu não perdia esse tempo, porque tinha memorizado as leis à primeira leitura.
No trabalho também não é mau de todo, sobretudo para encontrar emails que, não têm um título assim tão intuitivo, mas que são necessários encontrar.
A minha filha às vezes gosta, outras vezes odeia. Gosta sobretudo quando me pede alguma coisa e eu que a uma primeira abordagem posso parecer desentendida, mas no dia X ou Y a coisa concretiza-se. E diz ela "mas mãe, eu achei que tu nem tinhas ouvido, isso já foi há tantos dias e não te esqueceste!"
Sim Ritz, a mãe é uma espécie de Alien. Ela ri-se. Diz que sou um Alien Bonito. Vá lá!
Mas isto é muito cansativo; é que até quando há um extravio de uma carta ou de um email e não recebo determinada conta para pagar, eu lembro-me que tenho aquela conta para pagar, mesmo sem ter recebido a sua factura prévia. E isto é de facto incomum. As pessoas em geral preferem esquecer as contas e muitas vezes, esquecem-se mesmo, até tendo as facturas ali ao lado, ou filhos que precisam de comer em casa da mãe ou do pai, etc.
Pois eu, até nisso gasto energia cerebral. Ora, não recebi a factura X mas nesta altura costumo pagar aquela conta, e lá vou eu à busca de uma 2ª via ou da entidade/referência para cumprir com a minha obrigação.
Dou-lhe tanto trabalho que no dia em que ele me falhar, terei provavelmente a sensação que tem quem sente o coração a falhar. A minha máquina é sem dúvida o cérebro.
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