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Destralhar

 Quem nos lê e nos conhece, já sabe como é a minha filha. Tem 11 anos e é, como deveria ser, uma criança. Eu gosto dela assim. Não é nenhuma bebé, embora para mim o vá ser sempre, mas tão pouco é uma mulher em ponto pequeno, e eu também não gostaria que o fosse.

Quando oiço mães com filhas da idade da minha dizerem com orgulho que as filhas estão muito adultas para a idade….até me arrepio e confesso que fujo um bocado. Deixem as crianças gozar a sua infância, que é tão, mas tão curta. Têm tempo para questões adultas quando adultas forem. Mas enfim, cada um sabe de si, e dos seus filhos.

E por isso mesmo não tive qualquer pressa em retirar brinquedos do quarto, pesem as críticas de alguns iluminados que de visita a minha casa se punham a tecer considerações acerca da quantidade de brinquedos existente no quarto da minha filha. Teve muitos brinquedos e ainda bem que os teve. Já eu, na idade dela….não os tinha e sei bem a falta que me fizeram algumas tralhas próprias dessas idades. Na verdade nunca lhe comprei brinquedos em quantidade mas ela teve a sorte de ser a única neta, una sobrinha, ter uns padrinhos fantásticos e amigos que sempre a foram enchendo de bonecos, jogos, livros…e foi tão bom.

Mas ainda que continue a ser criança e a gostar de brincar, obviamente que já vai querendo também outras coisas e os limites da nossa casa são pequenos e por isso tenho andado aos poucos a “destralhar” para ir dando lugar ao quarto de uma menina mais crescida. Tudo é negociado e respeitando o tempo dela, pois cada coisa que retiro se traduz em mais um item que lhe vai custando a infância despreocupada para dar lugar ao caminho tortuoso que vai ser a adolescência.

Hoje, desmantelei a cozinha e todos os seus apetrechos. Foi das prendas com que ela mais vibrou e deu largas à sua imaginação e criatividade. Fi-lo sem ela cá estar para que, quando chegue veja o espaço que ganhámos e não passe pelo choque que é para ela ver-me encaixotar.

Em mim, fica um misto de saudade, pelos tempos dela que não vão voltar mais e que não vou viver mais, e um sentimento de uma missão quase cumprida. Quase a sairmos da infância e entrarmos noutra fase. Foi tão rápido, difícil por vezes, mas sempre, sempre grata à vida por me ter dado uma filha maravilhosa e de quem eu tanto gosto ver sorrir!

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