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A bofetada de que se fala

 O dia a seguir à cerimónia dos Óscares, costuma ser isso mesmo - the day after, em que se discutem escolhas, em que se opina que ganhou um, mas deveria ter ganho outro, banalidades como os vestidos mais ou menos magníficos das actrizes e convidadas. Mas não hoje, décadas e décadas depois, com cerimónias mais ou menos espectaculares e faustosas, a notícia é a de uma bofetada em directo de um actor nomeado, face a outro que estava a debitar um texto com mais ou menos piada.

A falta de piada atingiu uma mulher que por acaso tem um problema de saúde que a levou a ter que rapar todo o cabelo mas, seja por problema de saúde ou por gosto, a piada não teve mesmo piada, a visada não gostou e o marido, partiu estoicamente em defesa da sua amada.

Poderia ter sido bonito...qual é a pessoa que não gosta de ser defendida com tudo por quem a deve de facto defender!? Mas não foi bonito. E por muito que possamos tentar justificar a falta de humor, poder de encaixe, anos de humilhações, etc., que servissem de atenuante a um e outro lado, nada justifica nada.

Nem o humor que desrespeita o livre arbítrio dos outros, nem resolver as coisas com violência. E é isso que nos deve em última instância distinguir do lado errado, primarmos pela diferença, por muito que o nosso instinto por vezes nos queira levar ao nosso lado mais primitivo.

O Will Smith é brilhante em muitas coisas e tê-lo-ia sido ainda mais caso tivesse respondido com palavras noutra ocasião, como o fez no seu discurso de vencedor. A agressão foi um mau exemplo na sua essência e em tudo o mais.

PS: Não que não tenhamos por vezes alguma vontade de o fazer, falo eu que muito recentemente e também para defender alguém que amo tive uma vontade tremenda de dar não uma mas várias bofetadas de mão cheia...no fim, não iria ficar a sentir-me melhor, o problema não iria ficar resolvido e o peso na minha consciência e vergonha seriam superiores a qualquer prazer momentâneo que aquela violência quase gratuita me iria proporcionar. Na dúvida, mais vale o silêncio, seguirmos o nosso trilho e deixai os parvos continuar a ser parvos, até embrutecerem por si só.



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