"Ah well, what matter, that's what I always say, it will have been a happy day after all, another happy day." Winnie
E aqui está tudo o que é necessário reter, conheça-se ou não a Winnie ou a proveniência deste trecho. Para mim a peça Dias Felizes é uma das obras maiores de Samuel Beckett; como é que uma mulher enterrada na areia até ao pescoço, ainda consegue ter esta grandeza de espírito perante a vida e mais um dia que passou.
Diremos nós que não passa de um texto, uma peça que vista nalguma sala ilustre nos faz rir ou chorar, nos desperta várias emoções...atrevo-me a acreditar que pode ser também uma lição de vida. Porque não encontrarmos algum resquício de felicidade num dia "mau", em vez de apenas retermos a infelicidade? Será porque é mais simples irmos pelo lado mais fácil e lamentarmo-nos pelo que de mau aconteceu, em vez de retirarmos sempre uma lição positiva e continuarmos a agradecer pelo simples facto de estarmos vivos e continuarmos a ser capazes de partilhar a nossa existência com o mundo que nos rodeia?
Há perguntas que vão ficar sempre sem resposta, até porque as respostas muito simples e sem grande sumo raramente me satisfazem. Mas...vou seguir ainda que paradoxalmente a linha de pensamento da Winnie e acreditar que apesar de tudo foi mais um dia feliz!
PS: Alguém é capaz de me explicar porque é que nos agarramos tanto às experiências menos boas, e não valorizamos as pequenas coisas que no dia-a-dia nos fazem sorrir?
Comentários
http://www.youtube.com/watch?v=vnRqYMTpXHc
A respeito da obra que referes, só posso comentar em função do que dizes, pois não a conheço. Contudo e pelos teus comentários, deixo-te a referência para uma obra que é uma história de coragem e determinação e que me marcou profundamente quando o li, era eu um adolescente. O drama vivido por Armando Valladares, prisioneiro político de Cuba durante 22 anos, retratado pelo próprio no livro “Contra toda a esperança”
Em resposta à tua questão “Porque não encontrarmos algum resquício de felicidade num dia "mau", em vez de apenas retermos a infelicidade?” transcrevo desse livro um poema escrito nas condições mais adversas que possas imaginar, depois de 22 anos de tortura e que ainda hoje me emociona até ao tutano. Este poema foi a derradeira arma que resultou na sua libertação. Sim as armas de Valladares, foram a escrita e que conseguindo passar para o exterior dos calabouços, levaram Fidel Castro a liberta-lo por força das pressões internacionais que dai resultaram. Perceberás melhor se leres o livro.
Deixo-te este poema que me dá força quando me sinto em baixo:
Tiraram-me tudo
as canetas
os lápis
as tintas,
porque eles não querem
que eu escreva
e me afundaram
nesta cela de castigo,
mas nem assim sufocarão minha rebeldia. Tiraram-me tudo
— bem, quase tudo —
porque me resta o sorriso
o orgulho de me sentir um homem livre e na alma um jardim
eternamente florido.
Tiraram-me tudo
as canetas
os lápis
mas me resta a tinta da vida
— meu próprio sangue —
e com ela ainda escrevo versos.
Querida amiga, espero que aprecies e principalmente que preserves sempre o teu sorriso e o teu jardim eternamente florido.
Infelizmente, por muito que racionalizemos, através do néo-cortex, para nova do cérebro responsável pela linguagem e o pensamento lógico, raramente conseguimos acalmar a parte emocional da nossa existência.
Uma boa maneira para chegar ao cérebro primitivo (limbico) é através do corpo... respiração, relaxação, exercício, massagens, etc. O corpo tem muito mais impacto sobre o nosso lado emocional do que a própria razão.
Para se perceber melhor, toca a ler António Damásio.
B.