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“Maio maduro Maio”

“…Numa rua comprida 

El-rei pastor

Vende o soro da vida

Que mata a dor

Venham ver, Maio nasceu

Que a voz não te esmoreça 

A turba rompeu”

Maio é um mês mágico. É o mês do apogeu da Primavera, é o mês da vida. E é um mês historicamente rico. Eu gostava do mês de Maio. Um mês de luta, um mês de movimento, um mês de esperança. 

Há dois anos o mês de Maio tirou-me um grande amor. Às primeiras horas do dia 25 o meu padrasto deixou-nos, terminando o seu sofrimento e continuando o nosso, transformado numa saudade eterna. Esse mês de Maio também me trouxe um grande amor, mas não vou falar sobre corações quebrados por desamores. 

E desde há dois anos a esta parte e assim será pelo resto da minha existência, Maio é um mês agre. Aliada a toda a força que lhe encontrava e não encontrava em Junho ou Março por exemplo, vai estar sempre a memória de uma grande dor, de um sentimento de impotência e saudade.

Esta semana foi triste também. Lembrei-me muito da minha madrinha Guida que teria celebrado mais um ano no dia 19. Olho para a chave do jazigo do meu padrasto que está sempre à minha vista, oiço a minha irmã dizer que lá vai algumas vezes….e eu não consigo. Não fui capaz de ir até hoje ao jazigo do meu padrasto, e consequentemente não tenho ido igualmente ao local onde repousa a minha avó. Ficaram juntos, embora já não fossem oficialmente sogra e genro, fez-nos todo o sentido que os seus corpos repousassem juntos em honra do que foram para nós e do que gostavam um do outro, chatices da vida à parte.

Mas eu não tenho sido capaz de lá ir, como não fui capaz de ir ao cemitério onde está a minha madrinha. E estou chateada com o mês de Maio.

Ontem com muito pragmatismo disse à minha mãe, perante a esperança dela em que uma pessoa da nossa família fosse melhorar, que as horas de vida eram escassas. A minha mãe não interiorizou…mas eu sabia, como soube de outras vezes. E clamei para que assim fosse. Não suporto o sofrimento de um doente oncológico e recordo as palavras que a minha avó proferiu escassas semanas antes de morrer há mais de 20 anos atrás:

“Eu já queria ter morrido ontem porque para morrer…não é preciso sofrer tanto!” 

Eu fiz um autêntico banzé quando a minha avó disse esta blasfémia porque com 20 anos eu acreditava em milagres e na vida e no seu sentido. E ela com uma serenidade avassaladora disse-me que um dia eu iria perceber.

E percebo, e percebo há algum tempo. E percebo que ela não queria morrer mas que a escassos dias do seu fim tinha aceite o sentido da vida e com resignação tinha aceitado partir. O meu padrasto também tinha medo, muito medo de partir, mas vi nele uma serenidade no fim que me recordou a minha avó.

A minha madrinha por exemplo dizia que se ia curar. E acredito que na sua cabeça ela se curou e estava tão tranquila quando partiu.

A minha mãe não ouviu o que eu disse. Não quis crer. Eu, hoje de manhã levantei-me e achava que teria uma mensagem, mas não. Segui a minha vida…a meio da manhã recebi o telefonema. Tinha acontecido às 7.30h da manhã. A nossa prima havia partido. Finalmente a nossa prima foi descansar depois de um curto mas extremamente doloroso percurso oncológico. Eu respirei fundo e apenas disse à minha mãe: “Mãe, não leve a mal, mas ela merecia descansar e finalmente terá paz.”

Tenho muita mas muita pena por ver partir uma pessoa boa, uma prima, sangue do meu sangue, por ter a família destroçada, por sentir que a minha mãe está igualmente abatida. A minha mãe teme a morte. Mas sinto que a morte nestes casos termina com o sofrimento de quem parte. Arranja imensos problemas a quem permanece….e é esse um dos grandes paradigmas da vida e temos que nos aguentar, porque em breve, chegará a nossa vez. Isto é um sopro…será muito em breve.

Hoje, no carro a rádio deu a música que quando eu partir quero que toque na minha despedida. Disse-o à minha irmã que detesta estes meus laivos de lucidez…e ela registou. Para ela e para a minha filha que serão sem dúvida quem irá sentir sobremaneira a minha ausência. Mas a música que escolhi é forte, a minha atitude perante a morte também…e que nunca deixem de acreditar e procurem ser sempre….pessoas boas.

Hoje despeço-me da nossa prima e recordo os meus ausentes com muita saudade e muito carinho. Estão e estarão sempre presentes em mim e enquanto assim for…não morrem.

Até sempre!

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