Aqui me confesso - se uma das condições inequívocas para se ser má mãe é não levar um filho ao circo, então, eu sou uma muito péssima má mãe e por isto é lamentável, mas não fico com peso na consciência.
Peçam-me tudo, faço os sacrifícios todos pela minha filha, todos, mas mesmo todos, à excepção de...levá-la ao circo.
Se levá-la ao Cirque du Soleil me descontar os pecados, não estamos mal, porque a tenho levado de há uns anos para cá sempre que eles se apresentam em Portugal, mas ao circo, aquele da barraca, com a arena imunda, os animais cheios de pulgas e percevejos e acima de tudo fome, a cheirar mal, os artistas coitados a darem o seu melhor mas que a mim não me atraem nada, aquelas fatiotas que já deram o litro há anos e estão imundas e com o cetim a desfazer-se, as partenaires mais ou menos roliças, com mais ou menos jeito para malabarismo, equilibrismo e afins e pior de tudo....os pobres dos palhaços com aquelas vozes esganiçadas e guturais e sorrisos proeminentes pintados de branco e vermelho a esconder as mazelas da vida que estão por detrás das carradas de maquilhagem barata....não, recuso-me, não gosto, não gosto mesmo nada.
Em miúda ia ao circo, eu sei. A minha avó ia sempre comigo ao circo do Coliseu, outras vezes ia o meu tio, as primas - mas cedo me deixei de coisas e percebi que aquela forma de arte não me diz nada. A última vez que fui, fui contrariada e quase que "obrigada". A empresa patrocinou um circo, e ficava mal não ir, era a minha filha bebé. Bom, um circo tenebroso no Jardim de Oeiras e marcou-me sobretudo a decadência do homem-bala que de tão obeso ia ficando preso no canhão que o lançou. A minha filha olhava para aquilo com os olhos muito abertos e esbugalhados e gritava e percebi que também foi manifestação de arte que não lhe assistiu.
Daí para a frente jurei com direito a crucifixo e tudo que nunca mais poria os pés numa barraca de circo. E vou cumprir.
A tia agora tem bilhetes para o circo e a sobrinha que me parece que está a desenvolver uma leve tendência para o chinelo...quer ir. Pois que vão, que eu não sou cá de impedir que a minha prole passe um bom bocado. Eu até as posso deixar à porta do Coliseu, pois que seja mas nem que me dessem esta beldade, nem por esta beldade, eu me sujeitaria a uma manhã no circo. Isto sim, é ter convicções e ser fiel às mesmas.
Bom...pensando bem...hum....
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