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Em busca dos ténis perdidos - Parte I

 A minha filha chegou à idade crítica dos trapos e afins; quem não passou por essa idade que atire o primeiro calhau.

No meu caso não me foram dadas grandes facilidades, mas também tinha os meus sonhos de consumo.

Nada contra. Mas com a minha filha é não só todo um drama, como uma demanda sempre muito complicada. Não gosta de quase nada e não está aberta a alternativas. 

Por outro lado existem pessoas que à minha revelia lhe perguntam o que ela quer; não é meu apanágio, porque quero que ela perceba que tem aquilo que lhe podemos dar e só depois vem a variável seguinte: ou seja, dá-se o que podemos dar tendo em conta os gostos dela. Quando não há consonância e ela não facilita, pois, não tem. É muito simples.

Ainda por cima calhou-lhe uma mãe sem paciência para compras; aquela mãe que compra nas suas lojas fetiche, que têm a roupa com o número certo e nem é preciso experimentar, sem trocas e perdas de tempo.

Ela não; é daquela estirpe que é capaz de passar um dia num centro comercial a ver trapos. Não deve ter mesmo testosterona, só pode.

Para os anos tratou de mandar uma fotografia dos ténis que queria a quem lhe apara estes golpes:


E as pessoas fazem o seu melhor e oferecem-lhe os ténis da forma mais simples; encomendar e mandar entregar em casa. Chega a encomenda via UPS, passei-lhe a caixa dando-lhe a indicação, não fosse ela esquecer-se de agradecer de seguida o presente a quem lho ofereceu.

Foi para o quarto e chega-me segundos depois a chorar dizendo que os ténis não eram aqueles. Um aparte...eu não posso ver a minha filha a chorar, é algo que me incomoda. Quando se trata de factos sem importância então ainda fico pior. Porque acho por um lado que é mesmo uma parvoíce, mas ao mesmo tempo...não posso vê-la a chorar. É o que é.

Mas eu olho para os ténis e num primeiro olhar acho que ela está louca:
Mas não, não está louca porque os que ela queria têm um pesponto em branco e uma risca preta na sola, e os que vieram não! É um crime capital. O drama. A incúria! Compraram uns ténis completamente diferentes à criança. 

Mas eu disse-lhe: isso troca-se, só tens que esperar mais uns dias (embora cá por dentro eu continue a achar que a diferença não é estrutural e então quando estiverem encardidos e rotos, muito menos).

Por outro lado há que constatar que há pessoas incompetentes - então não se vê logo que se está a comprar um Fiat em vez de um Maserati? 

Conclusão: depois do choro, ranho, drama, eu a ficar uma pilha de nervos com soluções e ela a arranjar 5 problemas para cada solução minha, optou por ficar com os ténis (acredito que para se precaver e levar à risca o ditado de que "vale mais um pássaro na mão do que dois a voar"). 

Agora já me diz: gosto tanto destes ténis mamã, é que me ficam mesmo bem!

...para o que eu estava guardada.


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