Avançar para o conteúdo principal

Presentes….para ausentes….

 Cada vez era mais difícil comprar presentes para o meu padrasto. Quer dizer, os livros que escolhia para ele não falhavam, ou não lhe conhecesse bem os gostos literários, muitos deles que dele herdei desde muito nova. Era um homem inteligentíssimo, muito auto-didata e gostava muito de captar a essência dos mais novos e mostrar-lhes vários mundos, mesmo alguns que à partida pareceriam contraditórios. 

Não, não foi o meu pai, político que me fez ter algum interesse por certas doutrinas. Foi o meu padrasto, que começou precisamente por me introduzir nos primórdios da Ciência Política e História. Para além dos primeiros livros de informática e de numa Feira do Livro me ter comprado uma série de livros de Basic para eu aprender a fazer jogos….há coisas que nunca esqueço. Foi com ele que aprendi a gostar dos Doors, Janis Joplin, Jean Michel Jarre, Chopin…Jethro Tull. Um homem de Direita pôs-me a ler aos 12 anos o Manifesto do Partido Comunista…avisando logo que não era a onda dele, mas que aquilo sim era ideologia. Depois li o Processo Histórico e depois comecei a escolher a minha biblioteca ecléctica. São chatas as pessoas que não divergem em estilos. Não têm graça.

E o meu padrasto tinha. E muita. E eu estou cheia de saudades dele.

Não sei o que lhe iria oferecer, mas a neta certamente iria oferecer ao seu avô, uma bela garrafa de Cartuxa com este rótulo soberbo:

By wishacolor

Poderia receber o Euromilhões, mas o que ele ia adorar receber este mimo. Oh Zé, mas que raio de partida nos pregou. Quando o apanhar outra vez, vamos ter que conversar, e muito! Não gostei dessa escapadinha para a eternidade. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Já começo a sentir o cheiro a férias...

Embora esteja a braços com uma bela gripe de Verão; antes agora, do que daqui a uns dias.

Folder "Para quê inventar" #6

 Também existe quem publicite "Depilação a Lazer"!  Confesso que quando olhei há uns dias para uma montra de um instituto, salão ou lá o que é de "beleza" fiquei parada por alguns momentos, não sabendo bem se deveria benzer-me, fazer serviço público e ir avisar as pessoas que aquilo estava mal escrito ou pura e simplesmente, seguir o meu caminho. Foi o que fiz, segui o meu caminho, porque na realidade não me foi perguntado nada, portanto não vale a pena entrar em contendas com desconhecidos à conta de ortografia. Mas...."depilação a lazer" é mesmo qualquer coisa! Para mim, não é mesmo lazer nenhum e posso confirmar que provoca até uma sensação algo desconfortável no momento, que compensa depois, mas daí a ser considerado lazer, vai uma distância extraordinária.

RIP - Seja lá isso o que for

 Sabemos lá nós se o descanso será eterno, ou mesmo se haverá esse tal descanso de que tanto se fala nestas situações. Sei que estou abananada. Muito. Penso na finitude e de uma maneira ou outra, já a senti de perto. A nossa evolução desde o nascimento até à morte é um fenómeno ambíguo e já dei comigo a pensar que sempre quis tanto ser mãe, que me custou tanto o parto da minha filha para lhe dar vida e que ela, tal como eu, um dia deixará de existir. Não me afecta a minha finitude, já desejei o meu fim precoce algumas vezes, mas não lido com pragmatismo com o desaparecimento de outras pessoas, nomeadamente das pessoas que me dizem ou até disseram algo. Hoje, deparo-me com uma notícia assim a seco e sem preparação prévia. Mas como é que um colega de quem recebi mensagens "ontem" pode ter morrido!? E vem-me sempre à cabeça aquele tipo de pensamento: "mas eu recebi ontem um email dele", espera, "eu tenho uma mensagem dele no Linkedin", "não, não pode, en...