Avançar para o conteúdo principal

O nascimento da minha Filha (II)


(continuação)

...cheguei novamente à MAC por volta das 00:40h do dia 04 de Julho acompanhada pelas minhas dores, mas a situação aina estava atrasada. As contracções muito ritmadas, mas apenas 1 dedo de dilatação...até aos 10 havia um longo caminho a percorrer.

Uma enfermeira caridosa decidiu dar uma ajuda, fez um toque de marinhar não pelas paredes, mas por um arranha-céus acima (confesso que não gritei por vergonha) mas parece que a situação se compôs.
Pediram-me para ir andar um pouco, dei voltas e voltas ao quarteirão da MAC e já perto das 3 da madrugada dei então entrada na aventura que foi o nascimento do meu tesouro.

Fiz a admissão, dei as autorizações todas, nomeadamente a da pessoa que me acompanhou na jornada (foi a minha madrinha), os termos de responsabilidade, a da criopreservação, despojei-me das minhas roupas e dos meus objectos, vesti a camisa branca horrorosa mas muito prática e lá fui eu para o Quarto nº6 esperar pelo grande momento. Tudo preparado, até as pulseirinhas cor-de-rosa estavam a aguardar o grande momento.

As contracções continuavam, mas a dilatação estava lenta; de notar que quando fui transferida para o "meu quarto" estava com 2 dedos de dilatação...perto das 6 da madrugada atingi o 3º e levei a epidural...a minha melhor amiga de facto. As contracções sentem-se mas sem dor, o que é óptimo.
As horas passaram, as vistorias às minhas partes mais íntimas começaram a ser uma constante, mas só tenho a dizer bem do pessoal médico e de enfermagem. Excelentes profissionais!

Deu para dormir, deu para pensar, deu para falar ao telemóvel, deu para ter frio e calor, deu para desesperar um pouco, para sofrer qb...e as horas passavam, e as outras crianças iam nascendo e eu lá continuava...devagar, devagarinho...

De 2 em 2 horas levava o reforço da epidural, a certa altura para além do soro puseram-me occitocina para acelerar o processo e aí sim, comecei a aperceber-me que cada vez faltava menos...
Perto das 13 horas chego finalmente aos 10 dedos de dilatação e aí foi começar a fazer força...força...força....mas nada.
A bébé não descia e comecei a desfalecer...a desesperar. Eu fazia força, mas a enfermeira achava que não...mas eu fazia força....e nada.

Estive ali um pouco em sofrimento, depois sozinha, a enfermeira teve a (in)feliz ideia de me mandar levantar da cama e andar no quarto...escusado será dizer que o desmaio foi inevitável e lá regressei eu à posição horizontal, com direito a máscara de oxigénio e tudo...enfim, um aparato.
Até que por volta das 15 horas, mais uma comitiva da classe médica me foi visitar e após uma interessante conferência entre eles o chefe de equipa comenta que de facto eu não ia conseguir sozinha e que precisava de "ajuda" - fui em movimento uniformemente acelerado para o bloco cirúrgico no piso de cima, bye bye enfermeiras, olá olá equipa de 8 médicos à minha volta e aqueles focos enormes de luz a incidir nos meus olhos e eu extremamente angustiada e assustada...sozinha, já sem a minha acompanhante, frágil, a fazer beicinho e as lágrimas a escorrer-me pela face.

O que me vão fazer, lembro-me de ter perguntado...respondem-me para ficar tranquila, que só me vão ajudar a que tudo corra bem, injectam-me qualquer coisa que me ardeu imenso (era antibiótico) e ao mesmo tempo que me comentam que vão recorrer aos forceps pelo facto da bébé estar na posição semi-transversa, eu vejo aquelas "pás" enormes e penso...eu não vou conseguir.
Nessa altura tudo se acelerou, tanto eu como a bébé estávamos a sofrer um pouco...a epidural não fez efeito nesse momento...e nem sei transpôr em palavras o que senti. A dor foi dilacerante, primeiro sofri em silêncio, pediram-me para não fazer força enquanto tentavam dar a volta à bébé...as dores eram horríveis, até que passados longos minutos que pareciam horas me pedem para fazer força...eu tentei, ou fiz, já não sei...lembro-me de ter dido "eu não vou conseguir", lembro-me de dar dois gritos que pareciam "uivos" e de repente uma das médicas que me acarinhava o rosto me diz "olhe a sua filha, é linda"....

Chorei, chorei, chorei....disse "eu consegui" e olhei para Ela, já em cima da minha barriga com os seus olhos enormes rasgados a olhar para mim, linda e muito serena.
EU CONSEGUI!
Naquele momento só consegui pensar que tinha conseguido, que amava aquele ser pequeno que ali estava, tão frágil e dependente, que depois do sofrimento psicológico dos últimos meses e do sofrimento físico daquele dia tinha sobre mim a pessoa por quem a partir daquele dia eu iria ter que seguir em frente com dignidade e muita coragem.
Eram 15:48h do dia 4 de Julho de 2010, tinha acabado de nascer a minha filha, com 4190kg e 51,5 cm de altura. Maravilhosa, perfeita.
A bébé passou para a sala contígua, mais quente do que a do bloco cirúrgico, foi analisada pelo pediatra e ficou a aguardar o nosso reencontro, enquanto tratavam de mim. Foi-me feita episiotomia, assim mesmo o meu corpo cedeu um pouco, portanto escusado será dizer que levei bastantes pontos para que ficasse tudo em ordem novamente.
Fui muito acarinhada por todos os médicos que acompanharam o parto; deram-me os parabéns pela linda filha que gerei, pelo meu bom comportamento e pela minha coragem.

Foi muito bom ter recebido aqueles mimos....estava tão frágil e tão feliz ao mesmo tempo.

Cerca de 1 hora depois retornei ao quarto número 6 já com a minha bébé nos braços, rapidamente chamaram a minha madrinha...estávamos enternecidas as duas, com aquele tesouro ao pé de nós.

A bébé foi depois levada a conhecer o seu progenitor que aguardava na sala de espera; foi pessoa que obviamente não quis ter comigo, fiz questão de nem sequer ser eu avisá-lo que o trabalho de parto era uma realidade...proporcionei-lhe mais uma noite e uma manhã de sossego junto da "sua" indecorosa amante, por quem (está à vista) decidiu abdicar das suas obrigações morais, parentais...enfim, as acções para quem as pratica.

E assim foi o meu parto...estava esgotada, mas feliz com o meu rebento. Depois, comi, algo que não fiz durante mais de 16 horas e fui para o merecido descanso...valeu a pena!

PS: O tratamento na MAC foi excelente e agradeço a todos que proporcionaram que tudo tivesse corrido bem

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Já começo a sentir o cheiro a férias...

Embora esteja a braços com uma bela gripe de Verão; antes agora, do que daqui a uns dias.

Folder "Para quê inventar" #6

 Também existe quem publicite "Depilação a Lazer"!  Confesso que quando olhei há uns dias para uma montra de um instituto, salão ou lá o que é de "beleza" fiquei parada por alguns momentos, não sabendo bem se deveria benzer-me, fazer serviço público e ir avisar as pessoas que aquilo estava mal escrito ou pura e simplesmente, seguir o meu caminho. Foi o que fiz, segui o meu caminho, porque na realidade não me foi perguntado nada, portanto não vale a pena entrar em contendas com desconhecidos à conta de ortografia. Mas...."depilação a lazer" é mesmo qualquer coisa! Para mim, não é mesmo lazer nenhum e posso confirmar que provoca até uma sensação algo desconfortável no momento, que compensa depois, mas daí a ser considerado lazer, vai uma distância extraordinária.

RIP - Seja lá isso o que for

 Sabemos lá nós se o descanso será eterno, ou mesmo se haverá esse tal descanso de que tanto se fala nestas situações. Sei que estou abananada. Muito. Penso na finitude e de uma maneira ou outra, já a senti de perto. A nossa evolução desde o nascimento até à morte é um fenómeno ambíguo e já dei comigo a pensar que sempre quis tanto ser mãe, que me custou tanto o parto da minha filha para lhe dar vida e que ela, tal como eu, um dia deixará de existir. Não me afecta a minha finitude, já desejei o meu fim precoce algumas vezes, mas não lido com pragmatismo com o desaparecimento de outras pessoas, nomeadamente das pessoas que me dizem ou até disseram algo. Hoje, deparo-me com uma notícia assim a seco e sem preparação prévia. Mas como é que um colega de quem recebi mensagens "ontem" pode ter morrido!? E vem-me sempre à cabeça aquele tipo de pensamento: "mas eu recebi ontem um email dele", espera, "eu tenho uma mensagem dele no Linkedin", "não, não pode, en...