A minha filha tem tudo para brilhar. Ela brilha, mas ainda a considero um diamante em bruto.
Tento lapidar daqui, a vida em si lapida dali e ela, como que querendo ficar com as suas aparas, resiste, resiste bastante.
Não está a ser fácil esta fase que, dizem, dura até aos 20/21 anos - ainda vamos nos 14 e tenho momentos em que já não aguento. Mas eu também faço um esforço, respiro fundo quando possível e até fujo para o ginásio, para o passeio com o Balzac ou até mesmo para o vale dos lençóis e edredons, para me esconder e adiar conversas difíceis.
Inverteram-se os papéis, ou tenta ela, digo eu - porque me pressiona, insiste, tenta vencer-me pelo cansaço, tenta que eu diga um sim, após dizer um peremptório NÃO. Não aceita o tal NÃO na verdade.
Por vezes vejo-me forçada a dar a conversa por terminada porque este ser humano que saiu de dentro de mim, é de facto desafiante.
Mas, consegue ser tão deliciosa e amorosa e adorável - pouco, mas consegue. E faz-me sentir um orgulho imenso nela e é bonita que se farta. Inteligentesinha, como me disse por volta da mesma idade um Professor de Filosofia com quem ainda tenho o privilégio de falar de quando em vez.
Tem mesmo tudo para brilhar e a verdade é que ela o quer. Obstinada, por vezes até demais, motivo de curiosidade pelos professores que nem são os dela, mas que se espantam por ver uma miúda aparentemente igual a tantas outras, de ténis Vans e calças de gosto discutível, a ler a obra completa do Júlio Verne enquanto não toca para a entrada.
As coisas básicas não a seduzem....como a entendo.
Entretanto recebi o convite por parte do Director da Escola, para assistir à entrega do Diploma de Mérito relativo ao ano lectivo passado. Desde que estuda que assim é, sucedem-se as minhas visitas anuais à escola para testemunhar o seu momento de glória. E que feliz que ela fica. E que feliz que fico eu por ver a sua felicidade estampada no brilho dos olhos e até o Sr. Director a acenar-me e eu a responder com um sorriso tímido.
Não concordo nada com a atribuição de prémios de mérito nesta fase escolar, mas sendo a realidade que temos e trabalhando a minha filha com tanto brio, que os merece, transbordo de orgulho e tenho vontade de a fundir em mim num abraço sem fim...mas rapidamente me esqueço disso, porque a tal fase da adolescência não dá tréguas, não me dá tréguas.
Acho que isto é o verdadeiro amor. Só pode ser.
Comentários