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 Há uns dias chegou perto de mim com um tubo de ensaio na mão, um ar dramático-tresloucado mas sério a dizer-me:

“Mãe, um dia vou descobrir uma cura para um cancro!”

Teve a solenidade suficiente para eu perceber que estávamos perante uma conversa séria. Já não estamos na base do “quero ser bióloga” com a eloquência com que dizia que queria ser cabeleireira. Aquilo saiu-lhe das entranhas, com convicção e certezas. 

A primeira e única pessoa que conheci assim, com uma convicção forte foi o meu amigo de infância Pê. O Pê dizia deste tenra idade que um dia ia ser médico. E o percurso não foi fácil. Primeira tentativa não foi colocado, segunda tentativa idem e só no terceiro ano o Pê conseguiu dar mais um passo para seguir o seu sonho. O Pê concluiu o seu curso, fez a sua especialização e passou por vários sítios, desde o Centro de Saúde, Institutos disto e daquilo, hospitais públicos, bancos….mas acima de tudo o Pê tinha alma, e quando dizia em pequeno que um dia iria ser médico, não buscava o hipotético glamour que muitos encontram quando por uma ou outra via lhes chamam Dr. O Pê queria ser médico, tratar de gente, salvar vidas. Portanto fora de qualquer glamour juntou-se a uma ONG sem fins lucrativos, sem ganhar um tostão, e esteve um ano a exercer Medicina em Moçambique.

Hoje já leva uma vida mais tranquila, casou “tarde” para as convenções impostas pela sociedade, também foi pai mais tarde do que seria expectável pelas tais convenções, mas fez e continua a fazer tudo e sobretudo, com muita dedicação é médico. 

Quando a minha filha com aquele olhar a brilhar e sério  me diz que vai descobrir uma cura para um cancro… eu acredito sobretudo que ela vai fazer de tudo para melhorar a vida dos outros. Se será uma cura para o cancro propriamente dita ou um caminho para curar alguns “cancros” da sociedade eu não sei, mas tem toda a determinação e a garra para mudar qualquer coisa na vida de alguém. Sinto isso e nesse caso a benção que é ser mãe dela, é ainda maior.

Está a iniciar o caminho do estudo das temáticas que ela tanto ambiciona conhecer e dominar. Pode até mudar de ideias quanto à Ciência que no fim irá escolher mas, ela tem aquele lado bom, altruísta e tão raro de se descobrir nas pessoas vivas.


 

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