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Quando a vida nos torna a abanar

 Já aqui tinha referido as minhas andanças com os exames de rotina mamários que vieram com um resultado duvidoso e que me atiraram para uma ressonância magnética boa, sem indicações que fossem dignas de algo mais do que seguir com os exames de rotina anuais. 

Foi apenas a interpretação do que li e muito me aliviou mas...a realidade trouxe-me nova surpresa quando a médica especialista em cancro de mama analisa com muita atenção os meus exames e, de uma forma muito tranquila me diz que o facto de ter uma ressonância magnética com um bom resultado não é por si só garante de ausência de cancro e que as imagens do meu nódulo lhe deixavam dúvidas, que não a deixavam tranquila caso me pedisse para voltar em 6 meses, dada a minha idade e os factores hormonal e multiplicação de células estarem ao rubro, e uma espera de 6 meses poder ser a diferença entre a vida e a morte.

Na minha presença contactou o médico e colega dela que me fez a ecografia mamária e saí de lá com biópsia urgente marcada. Não foi um banho de água fria, foi mesmo um valente par de estalos que levei naquele momento.

Ao mesmo tempo senti por parte daqueles médicos um carinho e uma aposta em mim, inexcedíveis. E é reconfortante sentir que não somos negligenciados, embora tudo me tenha passado pela cabeça.

Mas lá fui com o semblante possível fazer o que tinha que ser feito, colocando todas as questões, porque a ideia de ter uma agulha a perfurar um seio, não é a mais simpática. 

Chegar, visualizar uma panóplia de instrumentos, o médico responsável pelo acto médico, a anestesista, 2 enfermeiras, confesso que não sendo eu nada piegas, fiquei nervosa. E ali estava eu despida da cintura para cima, fria, triste e apreensiva. Valeu o carinho de toda a Equipa, o médico incrível a orientar por um lado o acto que estava a fazer, por outro a explicar-me o que via e ia fazer de seguida e mesmo assim, ainda tinha tempo para me acariciar a barriga e dizer que ia correr tudo bem.

Não foi apenas uma simples picada. Saí de lá sem qualquer coisa, é um facto, mas todo o processo foi de uma humanidade extrema. Algo muda em nós quando nos vemos num cenário destes. Se já o sabia pelos casos próximos que testemunhei, com melhor ou pior desfecho, agora senti verdadeiramente, ainda que de uma forma muito ínfima, todo o impacto que uma coisa destas tem em nós.


 Resta respirar e seguir em frente.


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