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 Há cerca de um ano começávamos a dar rapidamente os últimos passos. O meu padrasto tinha feito a primeira sessão de quimioterapia, eu com imensa esperança de que a situação ia recuar. Ele tinha medo, quem não tem!?

Continuo a achar que aqueles ataques cardíacos pós primeira sessão também foram muito causados pelo estigma da quimio e o medo dos efeitos secundários. Mas ele sobreviveu àqueles ataques cardíacos controlados em ambiente hospitalar que, graças ao pacemaker não deixaram grandes danos. Quando podia ir ao hospital ao fim do dia eu ia, quando podia ir à hora de almoço ia. Fazia aqueles 100kms de ida e volta com ganas de o ver bem. A minha irmã esgotada mas com esperança.

Não sabíamos na altura, há um ano atrás que eram os seus últimos 3 meses de vida, e que meses dolorosos em que aquela pessoa que conheci foi morrendo rapidamente, de dia para dia. Nem nos meus piores pesadelos algum dia me passou pela cabeça que o Zé ia sofrer tanto, ia morrer tão cedo e eu ia perder assim o meu grande amigo. Hoje, continuo a verter lágrimas tão intensas como as que verti no dia em que o perdi. Não falávamos todos os dias, nem pouco mais ou menos...mas eu tinha cá o Zé, a minha irmã tinha cá o pai e a Rita tinha o seu único avô.

Perdemos todos: ele...a vida. E ele gostava de viver. Eu, o meu grande amigo, o meu grande apoio desde que a minha mãe o trouxe para as nossas vidas e que continuou a sê-lo depois da relação deles terminar. Uma lição para os pais de sangue que quando se divorciam, parece que também se divorciam dos filhos. Perdeu a minha irmã o pai e que heroína que ela foi na fase terminal - não sei onde foi buscar forças para a cuidadora que se tornou. 

A Rita, com tanta necessidade de afecto de uma figura paternal, perdeu o seu grande companheiro. Ele faz-nos falta. A existência dele faz-nos falta. Sabê-lo com vida faz-nos falta. Ter alguém a tratar-me por Tanoquinha com aquele ar eternamente gaiato, faz-me falta.

Oh, maldita saudade que me atormentas...


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