Hoje, nem sei bem porquê, lembrei-me do Soajo.
Não, não é o Soajo da Peneda Gerês, que por sinal é das vilas mais bonitas que conheço neste país com os seus espigueiros, mais ou menos artísticos espalhados no seu espaço.
Mas este Soajo tinha outra beleza, e ladrava. Era um dos Castro Laboreiro do meu padrinho, que durante uma parte da sua vida entre outras coisas, foi criador desta raça autóctone de cães tão portuguesa.
O Soajo não era um cão naturalmente simpático, nem era um cão afável. O Soajo tinha carácter e não era dado a confianças. Era um cão de guarda, e ponto. Não se deixava sensibilizar. Tinha um ladrar forte e rouco.
Mas eu era criança, e achava piada ao Soajo. E colocava-me em cima dele, como se de um pónei anão se tratassse, e cavalgava em cima do seu lombo. O Soajo quando assim era, virava cordeiro, nem latia. Bom, se me visse vir ao longe ladrava com fervor, como que a dissuadir-me de me aproximar, mas depois, resignado, lá me deixava fazer-lhe diabruras, até me cansar.
Nem sei porque hoje em dia tenho algum medo dos cães, porque a experiência que tive em criança deu-me toda a segurança para não os temer…mas aqueles dentes…só de olhar assustam. Nada disso me assustava no Soajo.
Havia também a Pinga, que era a sua fêmea. Essa era uma fofa, quando tinha ninhadas, toda uma mãe extremosa…mas eu, por muitos cachorros bebés, por muito que a Pinga me viesse dar “beijinhos de cão”, eu vibrava mesmo com o Soajo. Tinha carácter aquele cão, e eu, com os meus 3/4 anos sabia-o e sentia-o.
Não sei por que motivo, há anos que tal memória não me vinha à cabeça, mas hoje, lembrei-me do Soajo! Se até os animais são inesquecíveis, como é os seres humanos podem ser tão frios entre si. Dá que pensar.
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