Vivemos em paz, embora eu seja a mãe e ela tenha que cumprir certas regras - há quem me acuse de excesso de zelo, mas honestamente não estou de acordo. É um facto que vivemos numa fase em que a falta de valores é notória e as crianças são muitas vezes mal educadas e isso, eu não aceito e tenho que corrigir. Mas raramente sou coerciva - sou capaz de dar 2 ou 3 berros, ameaçar a perda de privilégios e por vezes não me ficar só pela ameaça, ficar magoada uns tempos - acho que é o pior que lhe posso fazer. Sentir que eu não estou a olhar para ela a direito custa-lhe mais do que se eu lhe desse um tabefe. Mas aqui em casa, tabefes não há...vá, já houve um abanão ou outro, mas levantar a mão é coisa que não me assiste.
Por isso, há liberdade para expor ideias, debater, contestar, mesmo que nalguns pontos, tenha que prevalecer o que digo. Sim, eu sou a mãe e por enquanto quem tem o dever de impor regras, continuo a ser eu.
Mas a minha filha tem a sua vontade própria e é uma criança informada, ou não fosse viciada em ver blocos noticiosos e emitir opiniões: nomeadamente chamar vigaristas aos Sócrates desta vida, ladrões aos governantes e mal educados aos Venturas.
Hoje saiu-se com esta:
"Mãe, quando pensares em ir a uma discoteca, não me leves, porque eu não quero! Não estou para ser espancada, não me estou a ver a fazer de conta que danço com os braços no ar, nem a ouvir aquele tum-tum-tum, que nem é música!"
Bom, a verdade é que aqui a mãe também não gosta desse tipo de ambiente nem daquele tipo de som, companhia, etc,. mas já estou a caminho dos 50, já vi coisas menos boas e já estive nesses ambientes, ainda que poucas vezes, e de facto não me identifico.
Agora uma miúda com 11 anos ter esta maturidade de espírito não deixa de me surpreender pela positiva. Têm sido anos de ensinamentos, de partilha de algum saber, alguma cultura e parece que ela está a trilhar as suas preferências para o lado que eu considero mais saudável e rico - não obstante que eu até aceite que daqui a meia dúzia de anos ela queira ir a uma discoteca, mas ficava tão mais confortável se ela preferisse um concerto na Gulbenkian e similares. Parece-me estar no bom caminho e por decisão inteiramente dela.
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