Fez anos hoje uma pessoa com quem mantive uma relação afectiva há uns bons anos, curiosamente a relação afectiva mais longa que vivi, que até direito a um interregno de quase um ano teve, sem qualquer contacto e depois voltarmos a tentar até à anunciada ruptura, ruptura que se desenhava desde o início.
Afeiçoámo-nos um ao outro na pior altura das nossas vidas, ele acabado de sair de uma tragédia das piores que se pode imaginar e eu de um trauma também não menos fácil de gerir. Achámos ingenuamente que os nossos lutos cruzados nos ajudariam a renascer, mas…os lutos são necessários e existem lutos, mais longos que outros. Os nossos, anteviam-se longos.
Eu sou mais intempestiva e por muito que sofra e no vigor dos 30 anos, não baixei os braços e até pela minha filha, decidi viver e tentar curar as dores, mas o tempo dele não estava sincronizado com o meu…é mais vagaroso, não que eu ligue aos signos, mas é Balança e basta. Não reagia, por mais que eu tentasse, não reagia. Também hoje acredito que tivéssemos um pelo outro, um amor fraterno, pois é impossível existir amor entre duas pessoas, pessoas essas em luto, e com fantasmas a assombrar a sua história.
Reitero, tinha tudo para não dar certo. Ele ouvia-me, foi sem dúvida a pessoa com quem tive uma relação afectiva que se interessava verdadeiramente por mim, pelo meu ser, pelas minhas angústias…mas não falava. E eu que gosto que me oiçam, que se preocupem comigo, que me dêem tempo, mas também de ser recíproca. Mas ele achava que resolvia tudo sozinho, que não valia a pena expor o que quer que fosse. É irónico que aquilo que falta na maior parte das pessoas que conheço, ali existia, mas não existia a vontade inversa, nem comigo, nem com ninguém. Não estava talvez preparado para se fazer ouvir, tal não estariam os seus fantasmas a atormentá-lo.
As coisas não vingaram e no fim, fui de uma dureza intransigente, mas parecia não haver outro caminho. Alguém tinha que libertar os grilhões e teve que ser quem estava um passo à frente na tenacidade. E fui obstinada e claro que fiquei zangada com o fracasso, mas aliviada porque me sentia a remar e ele a naufragar sem se querer salvar. Tínhamos cada um de nós dois grandes alicerces: ele tem uma família fantástica e eu…uma filha que me faz andar para a frente.
Foi necessário mais um luto, mas aí, aprendi eu muito mais lições. Nunca me faltou uma mensagem no dia de anos da minha filha, no dia de Natal, no final do ano. Mensagens extensíveis à minha família que com ele privou e sempre todos com uma relação muito afável e próxima. Não esqueço. Depois, quando os corações ficaram tranquilos, as mensagens dele, deram lugar a telefonemas, sempre pela mesma ordem: como é que eu estou, como está a Bébécas (nome mimoso que ele lhe deu quando a conheceu com poucas semanas de vida) como estão os meus. Eu muito mais agreste demorei a abrir-me, mas as coisas acabaram por acontecer e assim ao longos dos últimos anos temos vindo a reabilitar este sentimento puro que sei, teremos sempre um pelo outro.
Não há mágoa, porque o que de menos bom ocorreu, foi fruto de lutos não vividos no tempo certo, e sermos a pessoa errada na altura errada. Mesmo que fôssemos a pessoa certa, a altura não o seria, e vice-versa.
Mas a verdade é que eu sei que qualquer coisa que me aconteça, o que quer que seja que me falte, de que quer que seja que eu precise…seja a que hora do dia for, ele move montanhas para não me deixar cair. E nunca, mas nunca vou conseguir dizer-lhe o quão boa pessoa ele é, o melhor amigo que qualquer pessoa pode alguma vez desejar, mas que não soube algumas das vezes, ser o melhor amigo de si próprio.
Hoje, foi o meu dia de lhe ligar…já tarde, não devia sequer já esperar que eu o fizesse, pedi desculpa pela hora tardia e se calhar inoportuna e diz-me que para mim, tem e terá sempre todo o tempo do mundo. Emocionei-me mas mais uma vez armei-me em dura. É uma pessoa bonita este gajo. A Bébécas muito despachada lá lhe deu os parabéns e eu, fiquei feliz por ter sentido do lado de lá que volvidos tantos anos, ele está aparentemente sereno, a ter uma atitude perante a vida muito mais positiva. Que feliz que fico e que feliz que fico por de algum modo nos termos cruzado na vida um do outro.
Hoje é o dia dele, happy 47 e que cada dia que passe ele seja sempre mais feliz e que saiba que é de facto uma boa pessoa.
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