Só percebemos certas coisas quando somos nós os actores principais e nisto da maternidade sou forçada a concordar. O tempo passa a correr e ontem eu tinha uma bebé linda com aquele cheiro maravilhoso e hoje tenho uma rapariguinha que amanhã, quando eu abrir os olhos, já se terá tornado numa mulher. E eu, com o rosto outrora jovem…serei a sombra outonal e logo invernal de quem alguma vez já tinha sido. É a vida a seguir o seu curso, tal como um rio.
Desde que começou a andar, por muitos outros sapatos que tivesse, comprava sempre as “carneiras” da praxe. Foi com uns desses que deu os primeiros passos, e até hoje aos 11 anos eram uns dos sapatos que ela sempre usava. Tão cómica, tão fofa, tão filhota pequenina da sua mamã.
Há uns dias disse-me que estes últimos já lhe estavam apertados. A seguir ao Verão já se sabe que crescem pés, cabelos, centímetros em altura…é a loucura. Hoje lá peguei nela e fui comprar uns sapatos novos, para o dia-a-dia e para darem também para a farda das Guias. Têm que ser de cor castanha e com atacadores. Perguntei-lhe que sapatos preferia, se os do costume ou se já gostaria de ter uns sapatos de vela.
Com esta idade tem todo o direito de escolher o que mais gosta, por muito que eu adorasse continuar a vê-la de “carneiras”, como que para perpetuar a imagem da minha bebé. Respondeu-me que lhe era indiferente e que o que eu decidisse estaria bem para ela.
Hum….pensei eu. Mas com a idade dela, o que gostaria eu!? Toda uma vida depois, o corpo e a cabeça a mudar a cada dia, pois claro que gostaria certamente de ter outra coisa nos pés.
Voltei a questionar dizendo-lhe que a escolha teria que ser dela, porque os sapatos eram para ela, merece escolhê-los.
Sorriu e disse que então se calhar queria experimentar uns de vela. E experimentou, e gostou, e trouxe-os e aquela bebé mais querida está a tornar-se numa crescida linda e maravilhosa. Mas crescida.
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