Todos os dias de manhã ligava para o edifício Rainha D. Amélia do Hospital Pulido Valente para saber como tinha sido a noite, como é que ela estava. Lembro-me que saí de lá num dia de visita um pouco perturbada, por me parecer que estava com dificuldades em respirar, não estava ventilada e tinha uns espasmos, não obstante me parecer serena. Quando lá ia falava com ela, não de coisas que a pudessem sensibilizar naquele estado comatoso, mas de coisas mais banais - mesmo deitada naquela cama de hospital, completamente careca e com uma costura que lhe circundava o craneo, a minha madrinha continuava a ser ela própria, pequenina, maneirinha, com as suas unhas pintadas, e as suas camisas de noite mimosas. As enfermeiras, a princípio diziam que estava tudo controlado, mas a uns dias do fim, diziam- me para ficar tranquila, que ela estava “ bem”, à espera da hora dela. Juro que pensei que as coisas pudessem reverter, mas é o que queremos sempre, mas o dia dela estava próximo. Mas todos os di