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Medos

Falemos de animais. Tenho medo, receio, pavor de alguns, repulsa de outros. Chego até a nutrir respeito por tantos outros, e de alguns espécimes do bicho Homem, em todos os seus géneros, sinto nojo até...mas do que eu venho aqui falar é de algo quase visceral. Jacarés, osgas, ratazanas, baratas, centopeias, morcegos...estaria aqui a noite toda e todos juntos não conseguem que o meu corpo reaja face ao simples acto de lhes pronunciar o nome, como aos animaizinhos que adoptam como hospedeiras as cabeças das pessoas, e dos miúdos em particular.

Sim, tenho medo, muito medo mesmo de piolhos. Medo, nojo, repulsa, e só de pronunciar essa palavra fico com comichão sobretudo na cabeça. A minha filha pode estar a coçar o corpo com uma espécie de urticária que eu, vou tranquilamente buscar o Fenistil à caixa dos medicamentos....mas se ela coça por um escasso segundo que seja a cabeça...eu começo a hiperventilar. Isto em primeira instância, porque depois começa uma colónia imaginária de parasitas a sugar-me o sangue e eu...bom, eu vou para a casa de banho, ponho a cabeça para dentro da banheira e começo a chocalhar os cabelos freneticamente para ver se cai algum objecto estranho e daí começar o extermínio. Após controlar as minhas comichões imaginárias pego na cabeça dela e começo a vasculhar. Por norma, é falso alarme, mas eu não me aguento sem fazer uma dupla desinfestação, just in case. E ela chora, ela diz que não tem piolhos, ela diz que “apenas coçou a cabeça no sítio em que tinha uma borbulha”.

E eu, mesmo assim, esfrego vigorosamente com a loção, o cabelo dela e o meu, penteio com aquele pente abominável, ponho óleos especiais, depois vou buscar a lupa, volto a sacudir a cabeça para a banheira, mas como destes bichos maléficos nunca se sabe o que esperar....ainda lhe ponho elásticos repelentes. É o vale tudo contra estes tipos. Bolas, que animal mais assustador.


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