Entenda-se, a minha filha, só um grupo restrito sabia o tormento que andava a sentir de há cerca de duas semanas a esta parte. Qualquer pai/mãe que seja digno de assim ser designado, tem sempre quantos corações a bater fora do corpo, quantos filhos tenha.
Eu tenho um, e esse coração bate ainda mais, do que aquele que tenho encaixado na minha cavidade torácica. E andava há uns bons dias a lidar com algo que, nos primeiros dias me pareceu irrelevante, mas com a continuação me fez crescer e encher de descargas eléctricas e água, nuvens de uma negritude máxima por cima da minha cabeça. Ora a criança parecia estar melhor, ora retrocedia, e até nos testes à sua hipocondria ela “passava” com distinção ou seja, cedo percebi que se neste caso havia algum exagero, seria no sentido inverso.
Hoje, quando íamos a caminho do hospital, eu com as nuvens negras a sobrevoar-me a cabeça, as energias positivas dos nossos a injectarem-me mensagens de que ia ficar tudo bem, eu e ela, sozinhas, como tem calhado nos momentos mais difíceis e/ou marcantes da nossa jornada de mãe e filha, eu com aquela mania que mesmo destroçada, me vou aguentar e ela a dizer “mamã, desculpa fazer-te vir a esta hora ao hospital quando eu sei que precisas de descansar”, naqueles vinte minutos passou-me muita coisa pela cabeça, com nomes clínicos e tudo, mas sempre a deitar-lhe um olho pelo retrovisor e a dizer-lhe que íamos conseguir aliviar-lhe o sofrimento.
Quando entrámos naquele Hospital pediátrico ia colapsando tal não era a afluência e ela, com aquele espírito resiliente que ela mostra nos piores momentos ainda me disse para irmos embora, porque eu, eu que não tinha dores físicas, apenas na alma, mas invisíveis para ela, precisava de descansar.
Tonta, tontinha disse-lhe eu. Achas mesmo que alguma vez a mãe se vai embora sem resolvermos esta situação que só os médicos nos podem ajudar!? Sua pateta. E ela, com aquele olhar profundo que me entra corpo dentro, me chega ao sangue, à alma e me faz seguir em frente, por ela.
No fim, mesmo com tanta gente a aguardar naquele hospital, a urgência dela não sendo geral e sendo de uma especialidade específica, estava tranquila. E entre me perder naqueles corredores labirínticos (como é hábito de cada vez que lá vou), triagem, e chamada para o gabinete médico de especialidade, esperámos no total cerca de 15/20 minutos.
Mais uma vez um atendimento incrível no nosso SNS e no hospital que mais confio para ela, um exame exaustivo e, uma coisa de que gosto, não sendo eu sequer da área de Saúde mas que fazem sempre, pelo menos comigo, participar no exame físico, tocar, guiarem-me a mão para os sítios chave e explicarem com toda a assertividade, carinho pela criança e compaixão, paciência e empatia com uma mãe a quem passaram muitas coisas menos boas pela cabeça, uma pequena lição de anatomia depois…o diagnóstico que, dentro de todos os males possíveis, é o menos grave.
Agora está ela de atestado por uns tempos, o repouso possível com esta idade e uns conselhos mais a seguir e eu a descomprimir e a sentir-me grata por termos sido poupadas a sofrimentos maiores.
Não consigo verbalizar o tormento silencioso que vivi nos últimos dias, nem vou conseguir libertar-me do mesmo nas próximas horas, mas ela, sobretudo ela, pregou um susto à mãe, mas vai ficar bem. My little one, my little and Amazing Drama Queen….rock’s!
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