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Basta uma escassa e breve convivência com os pares….para começarem a sair disparates da cavidade bocal para fora

 De há mais de uma semana a esta parte, temos sido bombardeados com o tema Rainha Elizabeth II. A figura e o que significou para a História assim o ditam, mas sem dúvida que é demasiado. O Covid já era, o conflito bélico na Ucrânia suavizou e as manchetes e peças jornalísticas vão ao cúmulo de falar dos chapéus da Senhora, verniz das unhas, sapatos….

E tudo isto há mais de uma semana e não acredito que termine no dia da sua inumação. Vá, que no Reino Unido e países da Commonwealth a cobertura seja exaustiva, até entendo, mas por aqui já se torna demasiado. Foi uma pessoa que faleceu, que antes de ser a Rainha, era uma mulher, mãe, avó, bisavó e fazem-nos entrar pela alma dentro a dor dos seus, que perderam uma das suas. 

E claro que todos temos a nossa opinião e tecemos as nossas considerações, com maior ou menor presença de espírito.

A minha filha hoje teve um toque de parvoíce que não se coaduna nada com os valores que lhe passo, e que não são sequer verbalizados no nosso contexto familiar e social. Tal não foi o disparate que eu até não ouvi bem à primeira:

“Oh mãe, diz-me lá. Tu eras capaz de estar 24 horas numa fila, ao frio, para olhares por uns segundos para o caixão onde está uma velha morta?”

Fiquei triste pela falta de sensibilidade que pautou a consideração. Cada um tem os seus sentimentos, a sua forma de expressar afecto ou afeição e encara alguns sacrifícios como uma forma de agradecimento. Se eu me predisporia a estar numa fila por horas para olhar por segundos para um ataúde coberto por uma bandeira de família, sabendo lá eu se a matéria humana da pessoa em questão até lá estará todavia, decerto não. Mas não, porque sou de carpir sozinha, sem ondas, sem holofotes e os momentos de dor são para mim de recolhimento e pelo que vejo nas notícias, vejo as pessoas demasiado alegres e sorridentes para a missão que estão prestes a cumprir. Mas isso é uma questão pessoal, que não consigo sorrir, estar divertida e a falar para a imprensa em momentos de dor.

Para além disso, não considero que esteja a honrar a pessoa, olhando para a sua urna. A pessoa acabou, não está ali. Quando muito ofereço o meu abraço aos que cá ficam…o que neste caso tão pouco se verifica. Mas, mais uma vez, são questões do foro interno e opções pessoais.

O que não posso admitir é que a minha filha, sempre tão sensível, comece a revelar os efeitos nefastos da endoculturação. Não é porque os outros dizem disparates que o vamos fazer, indo até contra os nossos valores e princípios.

Lembrei-a que também ela já perdeu pessoas de quem gostava, teve direito à sua despedida como quis, também tem pessoas mais velhas na família, inclusivamente um bisavô com a mesma idade que a Rainha agora falecida, que cá em casa não nos referimos às pessoas com adjectivos, sobretudo com um peso pejorativo.

Fim da conversa. 

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