Confesso que até há uma meia dúzia de anos atrás, desconhecia que estas situações acontecessem. Na verdade, nunca tinha parado para pensar nisso, porque se até existem pais e mães que rejeitam os próprios filhos, o que se dirá de filhos adoptados.
Mas há uns anos, em conversa com um amigo juiz na área de família e menores, relatou-me um caso que me deixou em lágrimas e confesso que se tivesse na altura as devidas condições, teria ido buscar aqueles 2 miúdos. Naquele caso não se tratava sequer de problemas comportamentais das crianças, mas antes falta de "tomates" daquele casal para levarem adiante um projecto em que se tinham metido. Em linhas gerais tratava-se de 2 irmãos de raça negra adoptados por um casal de raça branca que morava numa zona pequena e que enquanto as crianças iam lá passar os fins de semana e as férias foi muito bonito, mas depois não se aguentaram com a pressão da vizinhança em terem de repente dois filhos já meio crescidos e escuros. Portanto foram devolver os miúdos que sendo crescidos ainda eram pequenos, e uma dessas crianças com a percepção de que se tratava de algo relacionado com o tom da sua pele questionou os técnicos que caso o pusessem num congelador e ele ficasse com uma camada de gelo por cima, assim ficaria branco e já voltavam a gostar dele.
Para piorar os miúdos já tinham uma história de vida muito traumática - e aí percebi que afinal nao é raro as famílias que adoptam ou estão em vias de o fazer, devolverem os miúdos.
Isto de se lidar com gente miúda não é fácil; quantas vezes já quis eu devolver o Unicórnio Magenta à Cegonha e a a tipa disse-me que o periodo para devoluções já tinha prescrito? E tenho a noção de que a adolescência vai ser dura, mas, e então? Também não tive quem me aturasse há uns anos atrás? Quis ser mãe, e com grande pena fiquei-me apenas por 1 filha, quando o meu desejo era ter pelo menos 2, e sabia que nem tudo seriam alegrias, noites bem dormidas e 0 preocupações. Mais responsabilidade entendo que tenha quem os vai buscar a uma instituição - não me entra na cabeça que não consigam lidar com a situação e os devolvam, como se de uma peça de roupa foleira se tratasse.
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