Ontem assisti ao funeral do Papa Ratzinger. Sim, sei que enquanto Papa adoptou outro nome, mas sempre preferi tratá-los pelos nomes próprios, até o nosso Pedro Hispano. O nome de nascimento será o que nos define.
Não nutri muita simpatia pelo Papa Ratzinger enquanto entidade máxima da Igreja Católica. Ele próprio tinha uma fisionomia pouco empática, um Papa alemão também tem os seus quês e a sua reiterada ortodoxia em pleno século XXI já não fazia sentido. Ainda estou para saber como pediu perdão pelos crimes praticados na igreja.
Não que o seu antecessor Karol Wojtyla também não o fosse, mas tinha claramente uma atitude empática com os fiéis e não só. Tinha uma luz que o Papa emérito não tinha.
Não obstante, academicamente foi um homem de grande valor, de uma inteligência sublime, tocava piano com uma delicadeza brilhante e tinha ideias interessantes fora do tema da moral e da igreja.
Não deixei de respeitar a sua missão enquanto Papa, mas não foi de todo um pontificado que tenha seguido e concordado com a maioria das suas premissas.
Mas a vida também nos troca as voltas, nunca me vou esquecer que o Papa Ratzinger cá esteve em meados de Maio de 2010, eu estava gravidíssima e a passar um mau bocado, e inadvertidamente um desses dias em que deambulava literalmente por Lisboa à procura de respostas, nem me lembrando eu de tão ilustre visita, ao atravessar uma rua, sinto atrás de mim um grande aparato. Era a comitiva papal com o respectivo que pernoitava nuns dormitórios do Patriarcado ali perto.
Eu não procurei sua Santidade, mas vi-o mais nitidamente do que tantos e tantos fiéis que esperavam horas para o ver, e que o conseguiam apenas através de ecrãs gigantes. E eu, naquele momento uma alma errante e ao abandono vejo-o passar por mim.
Pensei que naquele momento aquela visão real estava a querer dizer-me que iria conseguir. A fé é isto; agarrarmo-nos a aspectos subjectivos para justificar o alcance do que desejamos.
Paz à sua alma é o que mais desejo, com toda a admiração pela pessoa, não propriamente pelo Papa… mas o que mais importa são as boas marcas que deixamos nos outros e o Cardeal Ratzinger deixou muitas.
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