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Empatia, consciência…o meu orgulho

 Não é um mar de rosas, mas eu previ que não o seria, aquando daquele longo e infindável trabalho de parto. E fiquei com a certeza quando ela me fitou e nos olhámos nos olhos pela primeira vez. Acabada de nascer tinha um olhar forte e fixou-me.

Não é uma menina fácil. Nada mesmo. Não se contenta com menos, quando pode ser mais. É determinada e obstinada, algo que lhe admiro, mas não sabe dosear os ímpetos e por vezes sai asneira.

Qual quê conversar com ela, explicar-lhe nexos de causalidade, que temos que relevar certas coisas e dar importância a outras…ela acaba por fazer o que quer e depois,  vem chorar para a mãe.

E a mãe que a ama incondicionalmente, não a põe nos píncaros nem acha que ela é “mais”. Lá fora ela é só mais uma e ainda por cima a ler Júlio Verne e Filosofia aos 12 anos, é diferente de 98% das crianças da idade dela e com as quais convive. Por um lado tenta adaptar-se aos outros, por outro quando deve fechar a boca, não o faz e depois há confusão. 

E eu replico que a tinha avisado que se tomasse a atitude A, embora ela esperasse o resultado B, iria ter muito provavelmente a resposta D, a qual ela não iria gostar. E sem necessidade e não ia aportar nada. Persiste, vem chorar, eu não tenho como lhe dar razão e depois sou a megera que está do lado dos maus.

Esta é a parte crítica. Mas passados 5 minutos vem à parte em que adivinha que não comi e me arranja fruta, me faz festinhas, desenhos e diz que me ama. Também é uma menina muito requisitada para várias actividades e eu, não me consigo comprometer com tudo. Existe também a minha parte, o meu trabalho, a minha pessoa, a casa…a minha saúde. 

E se antes ela não entendia e continuava a exigir, agora é a própria que me diz que surgiu uma oportunidade para teatro, música, dança, escrita criativa, etc., mas que compreende se não puder participar porque entende que eu não tenho margem para mais. 

E eu detesto não ter essa margem para que ela possa investir mais em coisas que lhe dão prazer, embora também defenda que o acumular de muitas actividades, não lhe dá o devido conhecimento e excelência em nenhuma delas. Portanto há que ter lucidez e pragmatismo. 

Mas como ela tem o foco nas ciências, no ambiente, na biodiversidade e é uma nadadora exímia, vai fazer mergulho. E está tão, mas tão feliz. Vá lá, conseguimos aliar um interesse, com a carga lectiva, não colide com a minha disponibilidade e vai ser uma experiência brutal para ela.

Fico feliz por, apesar das limitações associadas a um agregado familiar como o nosso, conseguir proporcionar-lhe muitas coisas diferentes. Oportunidades que eu não tive. A isto se chama evolução da geração seguinte. Aproveita filha! Sê feliz. Realiza-te!

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