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Como o estado actual da sociedade nos faz desconfiar...e quando o nosso coração nos impele a ajudar

De passeio por uma avenida como tantas da nossa cidade, ia com uma amiga distraída na conversa ao que um indivíduo nos trava, cada uma acelerou o passo, ele ia dizendo para não termos medo e eu com aquele instinto de ir andando mas a olhar para ele e saiu-me um:

“Desculpe, estamos com pressa, o que pretende?”

Lá disse que tinha vindo do Alentejo há uns dias para trabalhar, que foi enganado, que lhe tinham roubado 300€, que andava a dormir na rua, e se lhe podíamos dar alguma coisa para comer. Ficámos estáticas. A verdade é que olhei para ele a tentar perceber se alguma daquela narrativa era real, não estava com ar de quem tivesse consumido substâncias...mas...é tudo tão estranho. Ok, tem fome, estávamos em frente a uma pastelaria entreolhámo-nos e em perfeita sintonia dissemos que se ele quisesse comer, lhe pagaríamos a despesa. Os olhos dele sorriram, o homem até cresceu, fez-me tanta pena. Disse que lhe apetecia um croissant com creme de ovo e um leite com chocolate. Lá pedimos, mesmo assim no meio daquele episódio lembrei-me de lhe perguntar se ele gostava de queijo, disse que sim, como se a ouro me referisse. Pedi para lhe prepararem uma sandes de queijo, que embrulhassem para ele comer mais tarde, pagámos as duas a conta. Veio atrás de nós dizendo que não tinha dinheiro para nos pagar, mas que nos podia carregar as compras ou fazer o que fosse preciso.

Desejámos-lhe que conseguisse resolver minimamente a vida, voltámos ao nosso caminho e durante uns momentos não conseguimos falar. Depois, respirámos ambas fundo e sentimos que tínhamos com  tão pouco a cada uma, melhorar o dia de alguém.

Não deixou de me fazer impressão o senhor da pastelaria ter sido incapaz de dar alguma coisa ao homem, mas a vida assim. As acções ficam mesmo para quem as pratica.

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