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A mini-série da Netflix acerca do "Carniceiro de Milwaukee"

 Acho interessante e salutar até virar conversa de qualquer esquina uma série ou um filme baseado em factos reais, sobretudo quando os factos relatados são hediondos.

Confesso que quando ouvi falar na série "Dahmer" não associei logo que fosse a história do tal Carniceiro de Milwaukee, factos que há altura com os meus 14/15 anos me interessavam demasiado e começavam a deixar antever algo que eu gostaria de fazer no futuro - ligar do ponto de vista científico e humano com mentes perturbadas

Lembro-me de ouvir as notícias, lembro-me de o ver e o achar um "homem bonito e com alguma candura" e fiquei especialmente estupefacta como conseguiram encontram um actor que não se colando ao original conseguiu melhor - conseguiu gerar uma falta de empatia ainda maior por toda a gente, vítimas e não vítimas, com aquele seu tom monocórdico e o olhar sem qualquer expressão diferente, estivesse a falar com o pai, ou a dissecar um cadáver. Nisto acho que o actor foi ainda mas brilhante que o próprio Dahmer que, em entrevistas que deu, propositadamente ou não, nos deixava com uma sensação mista de monstro/vítima.

Como ouvi tanto comentário anterior, que é do que não gosto, acerca da série, pensei que fosse ainda mais temível, até porque eu segui há décadas atrás esta história e, colocando as vítimas no seu lugar de honra que tanto merecem, as cenas que mais me tocaram foram as de abandono por parte daqueles pais àquele Dahmer pequeno, a falta de interesse, de afecto, de atenção, e não perceberem que um abraço seguindo de um "amo-te meu filho" é dos abusos mais temíveis que um progenitor faz contra um filho, quando não está nem esteve lá para o resto....mas no fim de conta, dizem que os amam acima de tudo.

Já testemunhei casos próximos obviamente que o desfecho em nada está relacionado com este episódio dramático, mas que os progenitores, sejam o pai ou a mãe não entendam certos comportamentos dos filhos, especialmente face a eles próprios. "Ah, não é justo, eu fiz tudo pelo meu filho, eu não mereço que ele não me ligue, eu não mereço que ele me tenha virado as costas quando mais precisei, etc" - em 99% dos casos merecem mesmo, porque não estiveram lá para dar precisamente aquilo que não se vê e que dinheiro algum compra. Afecto, dedicação, atenção, tempo.

O Dahmer, não desculpando jamais o que fez, porque apesar de ser um psicopata demonstrou ter a noção do mal que fazia ao, quando foi capturado afirmar que "tinha que pagar pelo que fez e caso tivesse que morrer, tinha consciência que era algo merecido"; mas foi ele próprio uma vítima desde que nasceu do contexto familiar em que calhou, que não tiveram a capacidade para o ajudar, dar-lhe o tratamento necessário de modo a colmatar-lhe os ímpetos assassinos e evitar o final desastroso para todos os envolvidos.

Achei a série interessante, embora para a maioria das pessoas que a viu, não tenha surtido grande efeito porque não estão sequer sensibilizadas nem formatadas para sair do que quintal protegido e tentar sequer perceber o que se passou naquele contexto e infelizmente continua a ocorrer e muitas das vezes tão perto de nós.

Paz às almas de todas aquelas vítimas e que cientificamente se comece a retirar verdadeiramente ensinamentos para terminar com isto de uma vez por todas.

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