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Amar é cuidar, porque, se assim não for, não se trata de amor

Sem querer, até rimei, mas antes não tivesse rimado com algo que podia ser tão lindo e inspirador, mas é tão triste.

Ser-se "órfão" daqueles amores que deveriam perdurar vivos, para todo o sempre, é devastador. Quando somos adultos, adquirimos uma couraça que nos faz aprender a lidar com certas coisas, embora doa. mas as crianças…

A Milady Bébécas está a passar por uma fase complicada, que não vou expor aqui, como não tenho por hábito expor o que lhe é mais peculiar, pois é um direito dela, hoje se sempre, a sua intimidade.

Mas aquilo que colide comigo, tem que sair para fora. Este fim de semana ela deveria ter ido passa-lo ao pai, com mais ou menos vontade da parte dela, era isso o que estava definido. Teve uma actividade que acabava cerca de meia hora mais tarde da hora habitual, pelo que, com o devido tempo de antecedência o informo que a pequena estaria preparada cerca de meia hora mais tarde - e só aí recebo como resposta que não sabia se a iria buscar, porque tinha o carro avariado.

Nota minha: nunca vi um Mercedes avariar tantas vezes. Deve ter defeito de fabrico, só pode. Nem um Fiat Punto ou Citroen AX deve ter tantos problemas, mas adiante. Como deixou as coisas em suspenso, como é seu apanágio, lá lhe comentei que necessitava de saber se a vinha buscar ou não, pois tinha compromissos e tinha que gerir o meu tempo. Resposta ipsis verbis:

"Penso que não consigo despachar-me a tempo"

Trata-se por si só de uma resposta objectiva, mas como já sei o que a casa gasta, interpretei-a ao meu modo, ou seja, que não viria. Perguntar pela filha, 2 semanas depois de a ter visto pela última vez...nicles. Falar com ela para lhe dar uma justificação, por uma questão de educação e de respeito por ela...nicles ao quadrado. Ainda por cima num fim de semana em que não a deixei ir a uma festa de anos de uma amiga porque….iria estar com o pai. E perante a revolta dela quando lhe disse que não iria, por ser fim de semana de pai e ela me dizer que prefere estar com as amigas porque o pai não lhe liga nenhuma e não a defende, terminei a conversa bruscamente, defendendo que primeiro tem que estar com o pai e se infelizmente calha em fim de semana de festas, terá que prescindir delas.

Honestamente fiz merda. Ela sofreu, eu incuti-lhe o sentimento de família de que ela não é alvo, infelizmente, e nem esteve com o pai, nem foi à festa da amiga. Estou sempre a aprender.

Por outro lado, e como sempre o faço, aquando da nossa ida ao hospital hoje, informei-o do que se passava. Eram cerca da 1 da tarde. Pois que até agora o pai desta criança não mostrou qualquer preocupação pelo seu estado, não tentou falar com ela para lhe dar um mimo, um carinho, um afecto. E pergunto, como é que fazemos uma criança destas sentir um amor paternal por uma pessoa que de facto não lhe é nada, nem faz por isso. Pergunto, como é que um ser humano destes tem deveres ao nível das responsabilidades parentais, que não cumpre? Imagino que se fosse uma situação grave em que ambos os pais têm que tomar uma decisão urgente, de vida, como seria?

Reconforta-me de facto ter pessoas do meu lado, literal ou nem tanto que mesmo sem estar presentes fisicamente, nos dão os seus afectos, a sua preocupação, o seu ombro, o seu suporte. Acredito que isto por um lado a faça ser mais forte, talvez mais fria, mas o meu grande medo é quando chegar o dia que caia em si e deite cá para fora toda esta sensação de abandono. Tive a sorte de ter um padrasto que colmatou muitos destes desafectos que poderia sentir, embora no meu caso, tenha sido órfã de um pai que vivia noutro continente. Quando se trata de um Concelho ao lado, acredito que as coisas façam muito menos sentido.

A vida é mesmo complicada.

Comentários

eu disse…
Lamento imenso... Deve ser terrivelmente duro para ti e para a R. Não há dúvida que família não é só, nem sobretudo, sangue, e sim amor.
Brown Eyes disse…
Sem dúvida. Ela está sobretudo na fase em que adopta enquanto pai um amigo que lhe dê a dose de afecto de que ela necessita. Ao seu modo vai dando a sua volta por cima.
Mas não é fácil, para ambas.

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