Lembro-me de ser adolescente e ouvir aqui e ali, certos casos de mães (sobretudo mães, porque será?) que para além de tantas outras dificuldades com as quais tinham que lidar, tiveram que ser mãe e pai dos seus filhos.
Ultimamente tem-se falado novamente nessa realidade, até a propósito do jovem que praticou alegadamente o homicídio do coscuvilheiro do social, Carlos Castro.
No meu caso, como porventura em tantos outros por esse mundo fora, a responsabilidade não começou aos 4 anos da criança, ou aos 7 ou mesmo aos 10. Lamentavelmente pensei eu, mas hoje tenho a presença de espírito suficiente para concluir que em boa hora aconteceu, pois livrei-me de um mal maior, no meu caso vi-me a braços com a realidade de depender tudo inteiramente de mim, ainda antes do nascimento da minha filha....no fundo, muito antes.
Desde:
- as primeiras preocupações se estaria tudo bem com o embrião, depois feto...sózinha.
- a preocupação em saber se o gato Xá teria ou não toxoplasmose e os cuidados em limpar-lhe o areão...sózinha
- as três gripes fortes que foram dificilmente curadas com paracetamol...sózinha
- os medos próprios de uma futura mãe de primeira viagem, a falta de afectos e de carinho, a falta de apoio e compreensão, a falta de ter quem me tirasse fotos da minha evolução de grávida, a falta dos mimos, das festas na barriga, de um docinho a meio da noite...sózinha
- as primeiras compras do enxoval ainda em tons neutros, a escolha das peças mimosas, sonhar como ele seria e como iria ser a vida daí para a frente...sózinha
- a escolha do infantário, as contas da ginástica que teria que fazer no orçamento familiar, a compra do carrinho, ovo, alcofa...sózinha
- a preparação das malinhas para a maternidade, os medos, dúvidas e anseios do parto...sózinha
- os pequenos sustos no início da gravidez com ligeiras perdas de muco, uma ida ao hospital para avaliar se tudo estava bem...sózinha
- a mensagem que com tanto carinho a bébé "mandou" ainda da barriga da mãe, para aquele que se pensava que apesar de tudo iria ser um Pai, no dia do pai (19 de Março de 2010) a dizer algo como "para aquele que vai ser o melhor pai do mundo..."...sózinha
- e a retribuição no dia 02 de Maio de 2010, dia da Mãe do tal ser que aos olhos da lei é o progenitor, não estar com ela, a mãe, mas sim com a amante, casada com outro, a passar um fim de semana romântico na Aguieira...mais uma vez a futura mãe, sózinha
- saber por terceiros e quartos e quintos que andava a ser traída, humilhada, enquanto os outros dormiam em hotéis do Chile, em hóteis Ibis e tratavam de tudo para saldar sua indecorosa união...sózinha
- confrontar a situação e ainda ser peremptoriamente negado, até já não haver razão para tal...sózinha
- atirada para o lixo com uma filha no ventre...sózinha
- entrar em trabalho de parto, ir para a maternidade, sofrer 15 horas com contracções até ao nascimento, um parto que se complicou e acabou no bloco cirúrgico, com uma comitiva de médicos, fórceps e eu sem forças...sózinha
- dizer "eu não consigo mais" e ao mesmo tempo receber uma festinha na cara de todo aquele corpo clínico que bem merece a minha ovação e dizerem-me, "conseguiu e a sua filha é linda"....sózinha
- ter a minha filha finalmente nos meus braços às 15:48h de 04 de Julho, não receber uma palavra de conforto de quem se diz o progenitor e só me terem sido entregues os meus objectos de higiene e roupas, bem como as da bébé, perto das 21:00h, porque antes se esteve a comer e a comemorar com a amante...mais uma vez sózinha
- as dores pós-parto, o inchaço e os edemas nas pernas, as primeiras dificuldades com a amamentação, o turbilhão de emoções de olhar para um ser humano tão frágil e dependente de mim, as noites esgotantes sem dormir, os receios de se a bébé respirava durante a noite, se teria fome, a muda da fralda....tudo sózinha
- e as faltas de respeito, ainda grávida passar pelo antro onde trabalhava o progenitor da criança e vê-lo de braço à volta da cintura da mulher casada aos beijos; o ser contactada pelos pais do progenitor no sábado seguinte ao nascimento da minha filha, estando eu a amamentar e dizerem-me que tinha sucedido uma cena deprimente de violência e agressões verbais, pois dão com ele e a amante casada dentro da casa deles, nus, na cama onde tantas vezes dormi...a mulher casada foi expulsa e posta na rua e depois a sucessão de cenas deprimentes e as ameaças de que ainda iria ajustar contas comigo, pois hipoteticamente os seus pais não gostariam da amante por minha causa....passei por tudo isto sózinha e nesse momento com uma recém-nascida nos braços
...e tanto, mas tanto mais. Foi um sofrimento ao seu mais alto nível, um verdadeiro inferno em vida, e tudo culmina nos meus ombros, e no amor sem limites que sinto pelo ser humano frágil e em crescimento que é a minha filha.
Sou mãe, pai, educadora, amiga, companheira das primeiras brincadeiras, atenta às suas graças e devaneios...mas confesso que sem tempo para o resto.
A rotina é dura, as responsabilidades também, as contas de cabeça que faço para que tudo esteja sob controlo, as ementas, o leitinho a meio da noite, a preparação da roupa do dia seguinte, as birras, as dorezinhas dos dentes, as vacinas mensais, a limpeza da casa, as compras, a gestão apertada do orçamento familiar, o peso dela às costas hoje, ontem e sempre, as noites mal dormidas e o campo profissional que não pode ser descurado pois é através dele que consigo garantir a subsistência de nós as duas...mas sobretudo a da bébé, pois a ela é indiscutível que nada pode faltar.
Não é fácil ser Mãe e Pai, não é fácil arcar com toda a gestão que isso implica, não é fácil um ser humano estar sujeito a tanto sofrimento, responsabilidade, trabalho e empenho...mas já dizem os antigos que um Filho compensa todos os nossos "sacrifícios".
Mas também nem só de desgraças se compõe esta minha história...já dizem as pessoas das aldeias que "parir é dor e criar é amor". Eu pari e crio, mas tenho comigo neste momento quem também lhe tem muito amor para dar e que nos tem feito muito felizes e amadas às duas.
Foi nestas circunstânias, infelizmente não partilhámos tudo desde o início dela, mas no meu coração e na minha alma, quando fecho os olhos e imagino outra realidade, é como se lá tivesses estado e sejas tu a parte integrante de todo o processo.
....e no fundo és!
Ultimamente tem-se falado novamente nessa realidade, até a propósito do jovem que praticou alegadamente o homicídio do coscuvilheiro do social, Carlos Castro.
No meu caso, como porventura em tantos outros por esse mundo fora, a responsabilidade não começou aos 4 anos da criança, ou aos 7 ou mesmo aos 10. Lamentavelmente pensei eu, mas hoje tenho a presença de espírito suficiente para concluir que em boa hora aconteceu, pois livrei-me de um mal maior, no meu caso vi-me a braços com a realidade de depender tudo inteiramente de mim, ainda antes do nascimento da minha filha....no fundo, muito antes.
Desde:
- as primeiras preocupações se estaria tudo bem com o embrião, depois feto...sózinha.
- a preocupação em saber se o gato Xá teria ou não toxoplasmose e os cuidados em limpar-lhe o areão...sózinha
- as três gripes fortes que foram dificilmente curadas com paracetamol...sózinha
- os medos próprios de uma futura mãe de primeira viagem, a falta de afectos e de carinho, a falta de apoio e compreensão, a falta de ter quem me tirasse fotos da minha evolução de grávida, a falta dos mimos, das festas na barriga, de um docinho a meio da noite...sózinha
- as primeiras compras do enxoval ainda em tons neutros, a escolha das peças mimosas, sonhar como ele seria e como iria ser a vida daí para a frente...sózinha
- a escolha do infantário, as contas da ginástica que teria que fazer no orçamento familiar, a compra do carrinho, ovo, alcofa...sózinha
- a preparação das malinhas para a maternidade, os medos, dúvidas e anseios do parto...sózinha
- os pequenos sustos no início da gravidez com ligeiras perdas de muco, uma ida ao hospital para avaliar se tudo estava bem...sózinha
- a mensagem que com tanto carinho a bébé "mandou" ainda da barriga da mãe, para aquele que se pensava que apesar de tudo iria ser um Pai, no dia do pai (19 de Março de 2010) a dizer algo como "para aquele que vai ser o melhor pai do mundo..."...sózinha
- e a retribuição no dia 02 de Maio de 2010, dia da Mãe do tal ser que aos olhos da lei é o progenitor, não estar com ela, a mãe, mas sim com a amante, casada com outro, a passar um fim de semana romântico na Aguieira...mais uma vez a futura mãe, sózinha
- saber por terceiros e quartos e quintos que andava a ser traída, humilhada, enquanto os outros dormiam em hotéis do Chile, em hóteis Ibis e tratavam de tudo para saldar sua indecorosa união...sózinha
- confrontar a situação e ainda ser peremptoriamente negado, até já não haver razão para tal...sózinha
- atirada para o lixo com uma filha no ventre...sózinha
- entrar em trabalho de parto, ir para a maternidade, sofrer 15 horas com contracções até ao nascimento, um parto que se complicou e acabou no bloco cirúrgico, com uma comitiva de médicos, fórceps e eu sem forças...sózinha
- dizer "eu não consigo mais" e ao mesmo tempo receber uma festinha na cara de todo aquele corpo clínico que bem merece a minha ovação e dizerem-me, "conseguiu e a sua filha é linda"....sózinha
- ter a minha filha finalmente nos meus braços às 15:48h de 04 de Julho, não receber uma palavra de conforto de quem se diz o progenitor e só me terem sido entregues os meus objectos de higiene e roupas, bem como as da bébé, perto das 21:00h, porque antes se esteve a comer e a comemorar com a amante...mais uma vez sózinha
- as dores pós-parto, o inchaço e os edemas nas pernas, as primeiras dificuldades com a amamentação, o turbilhão de emoções de olhar para um ser humano tão frágil e dependente de mim, as noites esgotantes sem dormir, os receios de se a bébé respirava durante a noite, se teria fome, a muda da fralda....tudo sózinha
- e as faltas de respeito, ainda grávida passar pelo antro onde trabalhava o progenitor da criança e vê-lo de braço à volta da cintura da mulher casada aos beijos; o ser contactada pelos pais do progenitor no sábado seguinte ao nascimento da minha filha, estando eu a amamentar e dizerem-me que tinha sucedido uma cena deprimente de violência e agressões verbais, pois dão com ele e a amante casada dentro da casa deles, nus, na cama onde tantas vezes dormi...a mulher casada foi expulsa e posta na rua e depois a sucessão de cenas deprimentes e as ameaças de que ainda iria ajustar contas comigo, pois hipoteticamente os seus pais não gostariam da amante por minha causa....passei por tudo isto sózinha e nesse momento com uma recém-nascida nos braços
...e tanto, mas tanto mais. Foi um sofrimento ao seu mais alto nível, um verdadeiro inferno em vida, e tudo culmina nos meus ombros, e no amor sem limites que sinto pelo ser humano frágil e em crescimento que é a minha filha.
Sou mãe, pai, educadora, amiga, companheira das primeiras brincadeiras, atenta às suas graças e devaneios...mas confesso que sem tempo para o resto.
A rotina é dura, as responsabilidades também, as contas de cabeça que faço para que tudo esteja sob controlo, as ementas, o leitinho a meio da noite, a preparação da roupa do dia seguinte, as birras, as dorezinhas dos dentes, as vacinas mensais, a limpeza da casa, as compras, a gestão apertada do orçamento familiar, o peso dela às costas hoje, ontem e sempre, as noites mal dormidas e o campo profissional que não pode ser descurado pois é através dele que consigo garantir a subsistência de nós as duas...mas sobretudo a da bébé, pois a ela é indiscutível que nada pode faltar.
Não é fácil ser Mãe e Pai, não é fácil arcar com toda a gestão que isso implica, não é fácil um ser humano estar sujeito a tanto sofrimento, responsabilidade, trabalho e empenho...mas já dizem os antigos que um Filho compensa todos os nossos "sacrifícios".
Mas também nem só de desgraças se compõe esta minha história...já dizem as pessoas das aldeias que "parir é dor e criar é amor". Eu pari e crio, mas tenho comigo neste momento quem também lhe tem muito amor para dar e que nos tem feito muito felizes e amadas às duas.
Foi nestas circunstânias, infelizmente não partilhámos tudo desde o início dela, mas no meu coração e na minha alma, quando fecho os olhos e imagino outra realidade, é como se lá tivesses estado e sejas tu a parte integrante de todo o processo.
....e no fundo és!
Comentários
(só te conheço daqui, mas sinceramente, do que vejo gosto tanto que não resisto em comentar isto)
Muito obrigada e muito obrigada por teres paciência para me leres...e claro, retribuo os votos; tudo de bom :)
Parabens, es uma grande mulher...
Muita força e garra, sempre!