A minha filha informou-me que quando crescer e depois de frequentar a universidade, vai viver para a Finlândia. Não sei onde foi buscar esta ideia, mas ela diz que sim. Mantém que vai ser cientista.
E termina dizendo que me vai levar com ela, senão iria sentir muito a minha falta.
E eu indaguei, comentando:
“Mas quando tiveres essa possibilidade, já ganhaste as tuas próprias asas para voar. A mãe irá visitar-te sempre que possível, tu também vens cá, as tecnologias estarão mais avançadas e a comunicação à distância será ainda mais fácil….portanto….”
Ao que ela me respondeu:
“Não estás a perceber mãe. Tu vais viver comigo para a Finlândia porque eu não consigo viver longe de ti, e vou precisar de ti para sempre!”
Por aqui se concluem entre outros, dois problemas: a imposição e o espírito de líder, em que formata a vida dela e também quer formatar a minha mas, mais grave, este cordão umbilical afinal parece que não foi para o lixo cirúrgico da MAC, as células também não foram doadas, e ele continua presente, ainda que invisível.
É uma chatice porque eu preciso cada vez mais que ela aceite a ideia da minha finitude, rapidamente e de uma forma positiva. E ela troca-me as voltas e deixa-me assim, muito feliz por saber de viva voz o quão imprescindível sou para ela, o amor que me tem mas…com um nó na garganta ao pensar como ela se vai ver sem a minha existência física, mais brevemente do que ela possa até imaginar. Não temos a vida na mão e tudo isto é um sopro numa flor de dente-de-leão, do qual conseguimos eventualmente apanhar alguns resíduos e guardá-los até que virem pó.
Não obstante até lá, e tentando motivá-la a brilhar sempre, ela vai falando na Finlândia e nos estudos científicos que vai fazer.
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