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Não se aprendeu nada? Não há quem acabe com esta *****?

 


Há mais de 20 anos atrás, frequentava a cadeira de História Contemporânea algures no meu segundo ano de curso e partilhava muitas vezes carteira com a actual Ministra da Presidência. A Prof. Luísa Tiago de Oliveira decidiu mostrar-nos, sem qualquer pejo um documentário longo cuja exibição nos ocupou pelo menos 2 aulas e a sua “digestão” na minha cabeça, ainda não está concluída.

Um documentário real acerca do Holocausto. Com imagens reais de homens a ser colocados nos fornos crematórios, e a serem retiradas as suas cinzas, algum tempo depois, melhor ou pior incineradas. Olhares inocentes a entrarem em duches, pensavam eles, e a sofrerem em vida os efeitos nocivos do gás, até à sua morte. A saída daqueles corpos escanzelados, nus e mortos, meio tesos e atirados sem critério e respeito para valas comuns. Abajours ornamentais elaborados com retalhos de pele humana. Sapatos, muitos sapatos. Mulheres nuas, enregeladas, assustadas, moribundas que, ainda assim eram abusadas, seviciadas e depois…executadas. Essa execução era para elas, no fim de tudo, o alcance da (sua) paz.

Eu tinha 18/19 anos e chateei-me. Achei aquelas sessões desnecessárias. Eu…ainda era meio criança e achava que o mundo tinha evoluído. A Professora disse que as atrocidades de guerra nos devem ficar na memória, os verdadeiros mártires não devem ser esquecidos, para que não se volte a repetir e para que, mais tarde, ninguém ouse dizer que tal, não existiu. O conflito na Bósnia tinha terminado há pouco e ainda relembro a fotografia daquele casal, um deles Sérvio, o outro Croata, de mãos dadas, executados na fronteira mas juntos para sempre. Eles…ficaram juntos para sempre!

E eu acreditava que isto não se iria mais repetir…pelo menos na Europa, não a ter início na Europa.

Estava enganada. Muito enganada e jamais pensei em assistir a uma coisa destas aqui tão perto. Ser mãe e ter uma filha a falar de guerra, como fala de legos. Com medo que aqui chegue e eu, honestamente, sem ter  como lhe garantir que não chegará. Todos somos Síria, todos somos Líbia, todos somos Afeganistão…todos somos Ucrânia e cada vez estamos mais perto e envolvidos nestes conflitos cruéis encenados na cabeça de loucos e interpretados por meras marionetas que depois…depois, trocadas as fisgas por tanques de guerra, os sabres de luz por kalashnikovs arrasam tudo o que mexe. Não se respeitam regras de guerra, locais sagrados, velhos, crianças e mulheres. Não se respeita a Humanidade e entra-se num reino onde vale tudo de mau, onde reina o terror, o horror, a barbárie.

Então sejamos bárbaros e apareça alguém que silencie aquele monstro. Para o bem da Humanidade e de todos nós. E sim, há mais de 20 anos atrás, a minha professora estava certa. Não podemos ser poupados a imagens destas, porque é a realidade ao virar da esquina e estes seres humanos merecem ser lembrados, honrados e homenageados pela vida que lhes foi retirada cobardemente e pela coragem que tiveram até ao fim.

Pela Ucrânia!Slava Ukraini!


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