Ando numa fase em que me recordo muito do Beckett e da magistral peça “Dias Felizes”. Ai, se eu fosse um terço da Winnie.
Na minha vida sucedem-se tropeções e uma miscelânea de experiências que me atordoam a alma e o espírito. E sempre que estou mais atordoada, dão-se episódios queime trocam totalmente às voltas.
Esta semana tem sido especialmente profícua. Mas não estava preparada para lidar com o sofrimento de uma grande, grande amiga. Eu posso sofrer e partir-me toda mas…ver sofrer as pessoas de quem gosto, não! E estamos longe e eu não posso pura e simplesmente acompanhá-la neste momento de dor. Dor profunda e dilacerante que vai ser o início de todo um processo de remissão de um passado cruel e doloroso, perdão, catarse e saudade até daquilo de que tanto ela lamentava e procurava fugir.
A minha amiga perdeu a mãe. Uma mãe que teve uma vida tortuosa por opção própria, pregou muitos sustos toda uma vida…mas era a mãe. E mãe é mãe, por muitas desavenças que tenham com os filhos.
Só espero que descanse em paz e que a família aprenda a viver de uma forma que nunca foi possível alcançar. Talvez a culpa não tenha sido da senhora, terá sido tudo força das circunstâncias. Eu recordo uma senhora da aldeia, bonita, simples e simpática, aparte todo o seu lado mais sombrio e auto-destrutivo.
Que todos tenham a merecida paz e que perdurem as memórias boas. Nos meus ouvidos ecoa o choro convulsivo da minha grande amiga e os meus braços anseiam por a envolver num longo e terno abraço.
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