Até aqui, ou até há cerca de 2 anos vá, a divulgação de boletins clínicos era algo da esfera mais privada, e levava-se a mal que circulasse que fulano A tinha cancro, fulano B Hepatite, sicrano psoríase, etc.
Agora ter Covid 19 é uma autêntica fogueira das vaidades e parece que “é bem” dizer que se está contaminado, com direito a fotos de testes antigenio, poses em pijama com olheiras, pedidos de sugestões para a quarentena. Há uns anos atrás estive de quarentena com a minha filha à conta da varicela, e por acaso não vejo partilhas a proliferar com fotografias daquelas úlceras com aquele líquido nojento a jorrar. Também não vejo publicações com fotografias de doses anormais de herpes labial, ou de lesões de kaposi tão comuns nos seropositivos. Muitas pessoas mantêm os seus processos oncológicos o mais privados possível e, quando os tornam mais públicos fazem-no com o intuito de transmitir força a quem passa pelo mesmo, como que a fortalecer uma corrente de energias positivas e criar uma rede de solidariedade tão útil para os que mais sofrem e suas famílias.
Quando ao Covid…talvez nem seja a simples divulgação em si, mas a forma como tal é feito. Tipo, agora fui eu o contemplado com a sorte grande, ena ena, virem-se as atenções para mim. Que falta de coerência. Ah e tal, afinal isto é mau, mas eu até estou bem.
Quando tudo isto passar, voltamos à reserva da vida privada e as críticas incessantes às redes sociais e a certos meios de comunicação social que têm por hábito vasculhar a vida mais íntima de cada um.
Comentários