Nunca pensei que a minha filha tivesse como amigo imaginário um burro, mas a verdade é que teve mesmo. E não, não era um burro animado tipo o Eddy Murphy no Shrek. Era mesmo um....burro, um equídeo do mais real que pode existir. Dormia no quarto dela no chão ao lado da cama. Por vezes pedia-me uma almofada para ele. Confesso que ainda hoje não percebo como é que o burro se conseguia acomodar ali, mas devia gostar tanto dela que fez parte da nossa vida por uns anos.
Nisto dos amigos imaginários não vale a pena contrariar. Quando saíamos, cheguei a perguntar-lhe se o burro também ia, e ela, dizia que sim. Perguntei-lhe um dia se ele ia no carro, porque consegui que percebesse que eu, não o conseguia ver. E ela, do alto dos seus 4 anos na altura respondeu assim:
“Mamã, o burro não cabe no carro! Não vês que ele vai a correr lá fola ao nosso lado!?”
Sim, nesta fase ela ainda não dizia os r’s, só os carregados. E aí se dúvidas tinha de que o burro existia mesmo para ela, foram dissipadas e a sua presença passou a ser uma constante na nossa vida. Um dia, sem que nada o fizesse prever, o burro foi à vida dele e ela reagiu a essa perda com muita naturalidade. Foi ela que mo disse...”mãe, o burro foi embora. Estava com dores nas costas e teve que ir tratar-se”. Nunca mais voltou, mas, se até ai eu já achava o animal muito cómico, daí para a frente passei a respeitar este equídeo ainda mais. Nunca mais olhei para um burro da mesma forma.
E hoje, foi o dia dele. Onde quer que estejas, burro que acompanhaste os primeiros anos da minha filha, foste um tipo muito porreiro que a embalou, atenuou os seus temores nocturnos e fez-lhe muita companhia.
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