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A despedida da vida para uns

 Há 1 ano atrás vivíamos horas amargas e com uma tremenda frieza e presença de espírito lembro-me de ter dito à minha irmã algo assim:

"Tens noção de que o teu pai (meu padrasto) só vai aguentar mais umas horas!? Temos que ser fortes, mas ele não vai durar mais 24 horas."

E ela respondeu:

"Eu sei!"

Tínhamos ambas esta noção de um modo consciente, mas a verdade é que mesmo verbalizando, fica sempre aquela esperança de uma espécie de milagre, as memórias do passado sobrepõem-se ao presente e parecia que íamos voltar a dar os nossos passeios e umas belas almoçaradas por esse país fora. Sabemos lá, podia ser que o corpo começasse a responder, por artes mágicas.

Mas não...foram mesmo mais umas escassas horas de vida; oxalá me tivesse enganado, como me enganei ao longo da vida nalgumas relações humanas que não foram boas para mim e eu, ingenuamente achava que sim. Tanta presença de espírito nalgumas coisas e tanta ingenuidade para outras.

Temos muitas saudades dele, de o saber entre nós. Cada uma à sua maneira, verbalizando mais ou menos, sentimos muito a falta dele. Não me apetece ir ao cemitério. Não me apetece ver a sua finitude dentro daquele jazigo. Apetece-me sim ouvir a sua voz a ecoar na minha cabeça e a repetir vezes sem conta "Oh Tanokinha", como só ele sabia dizer.

Isto de se ser orfão de pai por duas vezes, é duro. De um pai vivo e de um pai que nos escolheu. A vida, na sua plenitude, a pregar-nos sempre partidas estúpidas.

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