Hoje o dia começou substancialmente triste e vou precisar de algum tempo para digerir. Conheço o João há 20 anos, quando eu era uma miúda a entrar numa Multinacional de renome e ele ocupava um lugar de chefia.
Não tínhamos correlação directa e aos meus 24 anos e 30 e poucos dele, a verdade é que eu o temia um bocado. Ele infundia respeito, com um ar sério e atento e já naquela altura uma visão estratégica ao mais alto nível.
Os anos foram passando e descobri no João um amigo. E para se ser amigo não é preciso estarmos em permanente contacto, mas a verdade é que ao longo destes 20 anos, passei por 4 momentos complicados na minha vida e em qualquer deles e sem qualquer busca da minha parte, o João chamou-me e para além das palavras e do conforto que me deu, actuou dentro das suas possibilidades alargando o carinho para a ex-mulher que é também uma pessoa por quem nutro muita gratidão.
O João esteve fora do país uns anos, regressou recentemente mas com ele veio também por acréscimo um problema de saúde muito grave, sobre o qual, com toda a lucidez e pragmatismo que lhe era característico ele me traçou o prognóstico, numa conversa que tivemos há 9 meses atrás. Mas ele confiava na ciência e eu também.
Há cerca de 2 semanas não falando directamente com ele, mas numa chamada em alta voz lá o ouvi a contar as últimas peripécias e o cenário não era animador mas ele estava "bem", embora a caminhar a passos largos para o limite de tempo que qualquer doente com esta patologia consegue sobreviver. Mas ensinaram-nos desde sempre que "enquanto há vida, há esperança".
...Mas o João não resistiu e partiu ontem à tarde com pouco mais de 50 anos e deixando todos quantos o conheceram, abalados, consternados e muito tristes.
Curvo-me perante ti João, com um sentimento de gratidão imenso pelo facto de nos meus momentos mais difíceis teres mostrado o teu respeito e a tua amizade e estás e permanecerás para sempre no meu coração. E estou tão, mas tão lixada por não termos tomado o café que estava no ar há uns meses, mas que por isto e por aquilo fomos adiando.
Até sempre João!
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