O assunto é sério mas não pude deixar de rir com a recente celeuma criada pelo Nelson Piquet. Talentos automobilísticos à parte, este indivíduo irritava-me. Eu era e serei até morrer do Team Senna, e naquela altura, em que se parava aos domingos de 15 em 15 dias a seguir ao almoço para ver mais um Grande Prémio, o Nelson Piquet para mim estava do lado dos maus e ainda por cima era feio.
Bom, crush pelo Ayrton Senna à parte, este tipo era parvo.
E eis que estava tudo tão sossegado e levantam-se as vozes da contestação porque apelidou o Lewis Hamilton de “neguinho”. Ma-ra-vi-lho-so.
Acho que com estes nadas, desviam-se as atenções do que realmente é grave e desadequado. Lembro-me que há muitos anos atrás namorei com uma pessoa cuja família era profundamente racista e ele, na verdade também o deveria ser, caso contrário não permitiria que se dirigissem a mim com mimos do género: no dia em que os pais me foram apresentados, a mãe e a tia virarem-se para mim e dizerem “não gostamos nada de pretos, mas a ti vemos-te como nós”, ou a mãe dizer-me que um dia se tivéssemos filhos iam sair uns “macaquinhos”, ou mesmo o irmão dirigir-se a mim como “febra”.
Isto são comportamentos graves que muito me afectaram durante algum tempo, mas não foram únicos. Ao longo da vida não há quem não se cruze com pessoas ignorantes e sem cultura que acabam por projectar nos outros, de forma cruel, as suas frustrações e desconhecimento cultural, histórico, social, humano…
Mas quando se fala em temas que podem suscitar ódios, há que ser-se um pouco pragmático e open mind. Quem traduziu a notícia ao Hamilton não percebe nada disto.
Vejamos. Há uns anos atrás também por desconhecimento, mas nunca achando que era um caso de racismo, até porque a pessoa que mo disse pela primeira vez é amiga do coração mas, receber um e-mail de trabalho com um “Oi nêga”…confesso que estranhei.
E a minha estranheza fez-me a falar sobre o tema com uma outra pessoa que viveu uma série de anos no Brasil e me disse que o termo nêgo/nêga é do mais carinhoso que há e curiosamente até pode ser utilizado a quem não tenha qualquer resquício de raça negra. É um termo “bacana” para se dirigirem a uma pessoa “bacana”. É claro que isto deu origem a gargalhadas gerais e a verdade é que ao longo da vida fui conhecendo mais pessoas de origem brasileira que de quando em vez lá me tratam por “nêga”…e eu acho uma delícia. É carinhoso, fofinho e não tem mesmo segundas intenções.
Alguém explica isto ao giraço do Hamilton? Fica desse jeito não nêgo, é na paz!
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